Inês Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Inês Gama
Inês Gama
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Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Podia dizer-me o porquê de usar o verbo no futuro de pretérito nas seguintes frases :

1- «Depois disto, o rei D. Dinis, o sexto rei de Portugal, viria a criar a Universidade de Coimbra...»

2 - «... Mas tal só viria a suceder-se em 1147, durante a governação de D. Afonso Henriques...»

3- «... a sua derrota perante os muçulmanos viria a ditar o fim do seu império no ano de 711.»

Em geral, tal aplicação de verbo no futuro de pretérito nestas frases parece seguir uma regra comum, não é?

Se sim, qual?

Obrigado

Resposta:

Nas frases apresentadas, o verbo vir, na forma viria, encontra-se na terceira pessoa do singular do condicional simples.

Segundo as gramáticas, o condicional pode ser interpretado como um modo ou um tempo. E veicula uma ideia de hipótese ou desejo e pode ser substituído pelo pretérito imperfeito do indicativo, como se observa no contraste entre os exemplos (1) e (2):

(1)    Gostaria de visitar Londres.

(2)    Gostava de visitar Londres.

Nas gramáticas em que se realça o seu uso como tempo verbal, como é o caso da Nova Gramática do Português Contemporâneo de Cunha e Cintra, prefere-se a designação de futuro do pretérito ou futuro do passado. Neste caso, o condicional utiliza-se para i) designar ações posteriores à época de que se fala, ii) como forma polida do presente, geralmente, denotadora de desejo, ...

A aprendizagem da língua materna
Reflexão na sequência de uma entrevista dos alunos do Iscte ao Ciberdúvidas (I)

Na sequência de uma entrevista aos alunos do Iscte pelo Ciberdúvidas*, a consultura Inês Gama apresenta, neste apontamento, uma reflexão sobre o ensino e aprendizagem do português como língua materna.

* Ver "O que pensam os falantes de português da sua língua?" (09/02/2024).

O que pensam os falantes de português da sua língua?
Entrevista do Ciberdúvidas a três estudantes do Iscte-Instituto Universitário de Lisboa

A língua portuguesa é, atualmente, um idioma falado por mais de 200 milhões de pessoas. Foi a pensar nos falantes de português oriundos de diferentes países e nas suas perspetivas enquanto falantes de diferentes variedades desta língua que o Ciberdúvidas teve a iniciativa de se sentar à mesa com três estudantes do Iscte – Instituto Universitário de Lisboa, provenientes de três países cuja língua oficial é o português. O resultado deste encontro foi a conversa que divulgamos no vídeo dividido em duas partes que acompanha este apontamento da consultora Inês Gama.

Pergunta:

A frase que se segue apresenta um verbo copulativo; relativamente à concordância, na presença de um pronome indefinido invariável, perguntava-vos se essa concordância foi respeitada:

«Ela sempre fora uma mulher calma, mas depois tornou-se ALGUÉM desesperado, inseguro.»

Obrigado.

Resposta:

Na frase apresentada pelo consulente, os adjetivos desesperado e inseguro estão na forma correta (masculino, singular), uma vez que concordam em género e número com o pronome indefinido alguém.

Em português, quando o constituinte que desencadeia concordância é um pronome indefinido como, por exemplo, algo, alguém, nada ou ninguém, os elementos que com este concordam assumem por defeito um traço correspondente ao valor não marcado dessa categoria, ou seja, apresentam uma forma singular para o número e masculino para o género. Já a concordância verbal é desencadeada obrigatoriamente na terceira pessoa do singular.

Contudo, caso se pretenda que estes adjetivos concordem em género e número com o nome mulher, então, ter-se-á que retirar o pronome alguém da segunda oração para que os adjetivos desesperado e inseguro tenham como referente o nome mulher, concordando com este, como se pode verificar em (1).

(1) «Ela sempre fora uma mulher calma, mas depois tornou-se desesperada e insegura.»

Os mouros e a língua portuguesa
A influência árabe no português

«Existem, hoje, no português, termos relativos à cozinha, aos alimentos, ao comércio, à agricultura, às ciências, às artes, entres outros, que provêm desta influência moura» recorda a consultora Inês Gama neste apontamento em que discute a influência de línguas como o árabe no português.