Pergunta:
Ocorrem com frequência, sobretudo na linguagem informal, a expressão «andar a» (pois o verbo andar transmite a ideia de «dar passos», «caminhar»). Por exemplo:
1. «O seu bebé anda sempre a chorar durante a noite.»
2. «O investigador, usando o seu truque, andou a inquerir a todos operários da fábrica, ao longo do turno.»
3. «Sem pensar no amanhã, o Pedro anda a gastar a sua riqueza.»
É legítimo o uso da expressão andar a?
Agradeço a atenção!
Resposta:
É legítimo o uso da expressão andar a + infinitivo (ou andar + gerúndio: norma brasileira).
Segundo a Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, diferente das categorias do tempo, do modo e da voz, devemos considerar o aspecto, sendo este uma categoria gramatical que manifesta o ponto de vista do qual o locutor considera a acção expressa pelo verbo.
Ele pode considerá-la concluída, isto é, observada no seu término, no seu resultado; ou pode considerá-la como não-concluída, ou seja, observada na sua duração, na sua repetição. É na circunstância de acção não-concluída que nos surge a expressão andar a + infinitivo.
Existe estar a + infinitivo e outras perífrases formadas com os auxiliares de movimento, estando entre elas o verbo andar. Exs.:
«Estou a ler Camões.»/«Estou lendo Camões.»
«Ando a ler Camões.»/«Ando lendo Camões.»
Também podemos ter outros verbos auxiliares de movimento, além de andar: ir, vir, viver, etc.; e também verbos auxiliares de implicação: continuar, ficar, etc.
Assim, os exemplos apresentados pelo consulente estão correctos.