Edite Prada - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Edite Prada
Edite Prada
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Edite Prada é consultora do Ciberdúvidas. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português/Francês, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; mestrado interdisciplinar em Estudos Portugueses, defendido na Universidade Aberta de Lisboa. Autora de A Produção do Contraste no Português Europeu.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Por que o futuro do pretérito, que indica hipótese, é colocado entre os verbos de modo indicativo? Não seria melhor colocá-lo entre os tempos do subjuntivo?

Obrigado, meus caros!

Resposta:

O futuro do pretérito é um caso específico no âmbito dos verbos portugueses, porque a mesma forma verbal (terminação -ia, etc. acrescentada ao infinitivo dos verbos regulares — andaria) pode veicular uma ideia de tempo com sentido futuro, mas com foco no passado, em exemplos como em «Ao observar o espaço não podia imaginar o que ali se passaria pouco depois», e pode, igualmente, veicular uma ideia de hipótese, em exemplos como «Não sei o que faria se não estivesses presente». Esta duplicidade de sentido faz com que a designação da própria forma verbal seja encarada de formas distintas. No Brasil, regista-se a predominância da ideia de futuro com foco no passado, pelo que se dá à forma verbal, prioritariamente, a designação de «futuro do pretérito». Por seu lado, em Portugal, há uma preferência pela ideia de hipótese, atribuindo-se à forma verbal uma designação que é, simultaneamente, um modo verbal: condicional. Alguns dicionários de verbos e algumas páginas em linha (como, por exemplo, esta) destacam ou registam as duas possibilidades, ainda que dando relevo a uma delas.

Importa referir ainda que o verbo, quando veicula uma ideia de futuro com foco no passado, se situa ou aproxima, efectivamente, do modo indicativo, ao mesmo tempo que, quando veicula uma ideia clara de hipótese, possibilidade, se aproxima do modo condicional.

Pergunta:

Posso ou não escrever, num título, todo em maíúsculas para realce, o h de horas em maiúscula?

Exemplo: «A PROVA TERMINA ÀS 11H» (início de exame, no quadro)? Disseram-me que, mesmo estando o aviso todo em maiúsculas, o h tem de ser minúsculo, por causa de uma norma conhecida em determinado sector da ciência.

Obrigado.

Resposta:

A unidade de grandeza tempo tem um conjunto de símbolos de representação normalizada, como acontece no caso de outras  grandezas e como pode verificar-se na página do Instituto Português da Qualidade.  Entre os símbolos da grandeza tempo, o h representa a hora, devendo registar-se sempre da mesma forma, ou seja, com minúscula, sem ponto e mantendo um espaço entre o número e o símbolo. Nos casos de uma frase toda ela escrita em maiúsculas, poderá optar por escrever 9:00, como se vê com alguma frequência.

 

N. E. (31/03/2023) – A consultora  refere-se à notação do momento em que alguma coisa se verifica. Sem prejuízo da informação dada nesta resposta, deve assinalar-se que, no registo do momento da ocorrência, se recomenda o formato hh:mm:ss, em que os valores da unidades de tempo (horas, minutos e segundos) são separados por dois pontos: «o avião aterrou às 23:30:30 (vinte três horas, trinta minutos e trinta segundos)». Neste tipo de notação, omitem-se frequentemente os segundos: 23:30 («vinte e três horas e trinta minutos»).Quando o valor das horas é inferior a 10, a casa das dezenas é preenchida por um zero: 03:00 («três horas»). Cf. Guilherme de Almeida, "Sobre a escrita dos números, das horas e de outras representações". Note-se, porém, que, no Ciberdúvidas, por convenção editorial se usa h entre o valor das horas e o dos minutos: 23h30, 03h00. Qu...

Pergunta:

Qual das preposições é correcta depois de se usar o particípio passado do verbo desesperar: Por ou para?

Ou seja, «Estou desesperado por que recebas a minha carta» ou «Estou desesperado para que recebas a minha carta».

Muito obrigado pela atenção!

Resposta:

Nos dicionários de regência consultados, as preposições indicadas para seguirem desesperado são com («desesperado com a situação») e por («desesperado por mudar de vida»).

Embora uma pesquisa Google me tenha permitido identificar muitas situações em que é usada a preposição para, creio ser de evitar o seu uso, sobretudo em frases como a que está em apreço, na qual é mais adequado o uso de por.

Pergunta:

Tenho verificado o uso de «por quê» em algumas traduções, nomeadamente, em contexto televisivo. O que me causa alguma estranheza, pois para mim, seja pronome interrogativo ou substantivo, porquê é sempre justaposto. Ao contrário da grafia brasileira que só usa o porquê justaposto, quando se trata de um substantivo.

Penso que esta confusão se deverá ao fenómeno do porque/«por que (razão)». No entanto, gostaria que me esclarecessem se existe alguma regra em português europeu em que o «por quê» se aplique.

Obrigada.

Resposta:

Não encontrei nenhuma referência que justifique o uso de por quê, enquanto locução, embora, tal como a consulente, tenha encontrado, em linha, algumas situações em que é usado.

Creio que poderá ser, como refere, uma interferência do uso de porque e por que. No entanto, a prática mais comum em Portugal é o uso de porquê, tanto nas interrogativas dire{#c|}tas como nas indire{#c|}tas, ou, ainda, quando o vocábulo é usado como substantivo.

Pergunta:

Tendo em conta a leitura que fiz de algumas respostas a perguntas já efectuadas mas ainda com dúvidas, poderiam confirmar se está correcto, ao abrigo do recente Acordo Ortográfico, em função de minúscula ou maiúscula:

«oceano Atlântico»; «Mar Negro», «mar Mediterrâneo»; «península Ibérica»; «região centro» (de Portugal), «o Norte» (região de Portugal), «Portugal continental», «o Continente» (parte continental de um país); «ilhas Britânicas»; «nordeste transmontano», «sotavento (algarvio)»; «território nacional»; «arquipélago dos Açores», «grupo Ocidental» (Açores); «cabo Carvoeiro»; «serra da Estrela».

Muito obrigada pela atenção.

Resposta:

Na base XIX do Acordo Ortográfico de 1990, alínea g), diz-se que a maiúscula é usada «Nos pontos cardeais ou equivalentes, quando empregados absolutamente: Nordeste, por nordeste do Brasil, Norte, por norte de Portugal, Meio-Dia, pelo sul da França ou de outros países, Ocidente, por ocidente europeu, Oriente, por oriente asiático».

Inserem-se claramente no que esta alínea preconiza as expressões «o Norte (região de Portugal)» e «nordeste transmontano». Como equivalentes, poderemos considerar «região centro (de Portugal)» e «sotavento (algarvio)». No caso deste último, e segundo esta interpretação, se dissermos apenas Sotavento, estamos a generalizar e poderemos usar a maiúscula, enquanto no uso de «sotavento algarvio» se recorre à minúscula.

Por seu lado, na alínea i), é referido que a maiúscula é usada «Opcionalmente, [...] em categorizações de logradouros públicos (rua ou Rua da Liberdade, largo ou Largo dos Leões), de templos (igreja ou Igreja do Bonfim, templo ou Templo do Apostolado Positivista), de edifícios (palácio ou Palácio da Cultura, edifício ou Edifício Azevedo Cunha)».

De uma forma rigorosa, creio que não poderemos incluir os restantes casos nesta alínea. Porém, se alargarmos «logradouros públicos» a referências geográficas, poderemos inserir aqui «cabo Carvoeiro, serra da Estrela, arquipélago dos Açores». E, nesse caso, como de certo modo o uso já consagra, poderemos usar indistintamente a maiúscula, ou a minúscula.

Os restantes casos não sofrem alteração com o novo acordo. Porém, o Vocabulário Ortográfico da Porto Editora, quer na versão em papel, quer na versão em linha, dá-nos pistas sobre algumas das situações que coloc...