Importa falar de base quando estamos perante a análise da evolução, ou crescimento, do léxico, através da formação de novas palavras por derivação, ou afixação.
Diz-nos Margarita Correia na obra Inovação Lexical em Português, edições Colibri, p. 27 e 28, que «as bases sobre as quais operam os afixos são normalmente radicais», podendo haver casos que fogem a esta regra. A autora refere, por exemplo, o caso do sufixo -zinho, que se pode associar a uma base com marcas de flexão: leão/leões – leõezinhos. Diz ainda que a base a que se associa um afixo pode ser: um radical, uma palavra simples, uma palavra derivada, uma palavra composta, ou, mesmo, ainda que raramente, uma locução («a tempo» – atempar; «de cor» – decorar).
Por sua vez, radical é uma estrutura mínima, digamos assim, que não pode ser reduzida ou transformada em unidades de sentido nferiores. Peguemos no exemplo referido, que é dado no Dicionário Terminológico, «doc- é a base para adoçar; adoça- é a base para adoçante». Adoçar é uma palavra derivada por parassíntese, uma vez que lhe são, em simultâneo, associados um prefixo e um sufixo, sendo este um sufixo verbal, uma vez que transforma a palavra a que se associa num verbo. A base que serviu para fazer o verbo adoçar foi, efetivamente, doc: a + doc(ç) + ar. Adoçar, por sua vez, é um verbo da primeira conjugação, ou de tema em a, a qual se distingue das outras conjugações precisamente graças à vogal temática. Consideremos agora a forma adoçante (particípio presente de adoçar) e comparemo-la com requerente (do verbo requerer), ou constituinte (do verbo constituir). Se analisarmos estas três palavras – adoçante, requerente e constituinte –, verificamos que em todas existe um sufixo derivacional que podemos isolar como -nte, o qual se associa a uma base verbal, constituída pelo radical mais a vogal temática, para formar particípios presentes, que têm a característica de funcionar na língua portuguesa quer como adjetivos, quer como nomes.
Tenhamos de novo em conta os três verbos adoçar, requerer e constituir e criemos com eles um adjetivo formado com o sufixo adjetival -vel, a partir do particípio passado dos verbos: adoçável (de adoçado); requerível (de requerido), constituível (de constituído). A base para formar cada um destes adjetivos foi, respetivamente: adoça-; requeri-, constitui-.
Façamos o mesmo exercício com o verbo saltitar. Se virmos bem, estamos perante um radical salt- a que foi acrescido um sufixo -itar, que permite formar verbos frequentativos, ou iterativos. Poderemos dizer que salt-, sendo o radical, é, também, a base para criar os verbos saltar e saltitar, mas, se tivermos em conta o particípio presente saltitante, a base que permitiu a sua formação foi saltita-.
Radical pode, pois, considerar-se uma estrutura com sentido que não é possível desmembrar mais. Este radical pode servir, e serve, de base para formar palavras novas, as quais, por sua vez, podem constituir-se em base para outras palavras. Por vezes, estas novas bases são, por alguns estudiosos, consideradas igualmente radicais, ainda que complexos…
Gostaria, ainda, de referir a importância que um dicionário pode ter como auxiliar na destrinça destas situações. No caso concreto de adoçar e adoçante, o dicionário da Porto Editora dá-nos, como estrutura-base para adoçar, a + doce + ar e, para adoçante, adoçar + ante. E, para o que for possível, o Ciberdúvidas estará sempre ao dispor.
Bom trabalho!