Abstraindo-nos da construção geral, pouco rigorosa e incompleta, das frases, se tivermos em conta que se trata de uma mensagem escrita, poderemos dizer que, relativamente à questão concreta que apresenta e que se prende, creio, com a forma verbal acompanhada da partícula se em a) «se sabe», ou da forma verbal plural sabem em b).
Analisemos, antes de mais, a estrutura global das frases em apreço, que estão, saliente-se, incompletas, ou seja, há parte da mensagem que não está explícita e que contribuiria para a plena compreensão do que se pretende dizer.
a) «As ferramentas científicas que se sabe fornecidas pela informática».
Como analisar esta expressão? Será que a relativa «que se sabe» é importante nesta estrutura?
Será que fornecidas é o verbo principal de uma oração completiva dependente de saber, ou será um adjetivo verbal associado a ferramentas?
a.1) «As ferramentas científicas fornecidas pela informática…»
a.2) «As ferramentas científicas que se sabe (serem) fornecidas pela informática…»
Em qualquer das expressões a) e b) sentimos necessidade de interpretar a expressão «fornecidas pela informática» como sequência e complemento do verbo saber, uma vez que este verbo, sendo transitivo direto, exige a presença do seu complemento direto, que não é expresso por um verbo no particípio, como fornecidas, podendo, todavia, sê-lo por um verbo no infinitivo (no caso em apreço estaríamos perante um infinitivo passivo, em que o auxiliar, não expresso, é o verbo ser…)
As frases, numa versão um pouco mais formal, ainda que continuando incompletas, seriam:
a.2) «As ferramentas científicas que se sabe serem fornecidas pela informática…»
b.1) «As ferramentas científicas que sabem ser(em) fornecidas pela informática…»
Feita a apreciação global da estrutura das frases, vejamos a questão da concordância no seio da oração relativa, que, como já referi, está correta nas duas frases.
Em a), ao optar-se pela partícula se, pronome pessoal de valor indefinido, com função de sujeito, está a generalizar-se, não envolvendo diretamente o recetor da mensagem: «que toda a gente sabe» é o que está, de certo modo, subentendido.
Por seu lado, em b), o verbo saber não admite, contrariamente a verbos como dizer, uma terceira pessoa do plural genérica, ou indeterminada. Posso explicitar algo do tipo «Dizem que amanhã vai chover», considerando que «alguém diz», mas não posso dizer «Sabem que amanhã vai chover», mantendo a indeterminação admitida com o verbo dizer, ou seja, significando «alguém sabe». Para o verbo saber, neste contexto, é necessário um sujeito subentendido, que, como se trata da terceira pessoa do plural, poderia ser «eles», mas que pode, também, ser «vocês», num discurso próprio de uma situação de interação verbal, como, de certo modo, parece tratar-se em b).
A grande diferença entre a) e b) é que, em a), o recetor da mensagem é genérico e não necessariamente presencial; no caso de b), o recetor é específico e, muito provavelmente, presencial. O facto de a frase não estar concluída, uma vez que não sabemos o que se pretende dizer acerca das «ferramentas científicas…», impede uma interpretação mais rigorosa.
Voltando ao exemplo b.1), acima, note-se que optei por colocar como alternativa admissível a forma pessoal ou a impessoal do verbo «ser(em) fornecidas». Fi-lo, uma vez que a língua permite a opção por uma das formas em muitas situações e que, no caso presente, por questões de eufonia, ou de boa pronúncia, é preferível a forma impessoal na sequência de um verbo conjugado na terceira pessoa [sabem ser(em)]. Em qualquer dos casos, o sujeito da infinitiva é o pronome que, representando na frase «ferramentas científicas».