Edite Prada - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Edite Prada
Edite Prada
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Edite Prada é consultora do Ciberdúvidas. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português/Francês, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; mestrado interdisciplinar em Estudos Portugueses, defendido na Universidade Aberta de Lisboa. Autora de A Produção do Contraste no Português Europeu.

 
Textos publicados pela autora

Ao retomar o tema "...uma das autarquias que... apresenta/apresentam", gostaria de agradecer a Jorge Madeira Mendes a leitura atenta da resposta que dei. E faço-o com a consciência de que a reflexão sobre a nossa língua comum é a melhor forma de a honrarmos e de a preservarmos na sua diversidade.

Gostaria ainda de asseverar o meu profundo respeito por todos aqueles que se interessam por estas lides e/ou a elas se dedicam.

Pergunta:

No domingo, dia 28 de Setembro [de 2003], lia-se em título no jornal “Público”:

«Trabalho faz cada vez mais mal à saúde».

Ora, considerada a minha aprendizagem já um pouco antiquada, eu usaria o adjetivo pior em substituição de mais mal. No entanto, e depois de
consultar a vossa página, ainda fiquei mais confusa!

Pergunto: será que, também neste exemplo, poder-se-á dizer/escrever das duas formas? (tenho plena consciência da evolução da língua, mas não se estará a cair em laxismos linguísticos?)

Grata pela vossa ajuda/esclarecimento.

Resposta:

Tem toda a razão. Cada vez pior é a única forma correcta. É claro que há situações em que podemos, e devemos, dizer mais mal ou mais bem. Isso acontece quando o advérbio de modo bem ou mal está a modificar um adjectivo verbal, ou particípio passado, desde que surja antes desse adjectivo ou particípio. São de Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo, os exemplos que cito:

«As paredes da sala estão mais bem pintadas do que as dos quartos.» (p. 546)

Mas:

«As paredes da sala estão pintadas melhor do que as dos quartos.» (ibidem)

Note-se que mesmo quando o advérbio mais modifica o adjectivo bom, ou mau, há situações em que a norma permite o uso de mais bom ou mais mau, se o adjectivo estiver integrado numa enumeração de qualidades atribuídas a um mesmo substantivo. Cito mais um exemplo dos mesmos autores e da mesma obra:

«Ele é bom e inteligente; mais bom do que inteligente.» (p. 262)

Voltando ao exemplo que a consulente cita, poderemos, talvez, tentar compreender a razão que está subjacente à sua construção. A meu ver, o uso de mais mal, nesse exemplo concreto, prende-se com uma certa fixidez que se associa à expressão gradativa cada vez mais ou cada vez menos sempre que ela tem continuidade de sentido à sua direita. Se se dissesse “Este país está cada vez melhor”, duvido que al...

Pergunta:

Tenho que fazer um trabalho sobre as contrações da nossa língua e sua originalidade. O professor em questão passou o livro: Novela Sociolinguística, autor Marcos Bagno. Ele exemplificou algumas palavras que no Latim Dubita=>Duvida; Cathedra=>cadeira. Gostaria de obter ajuda para encontrar textos e exemplos para criar este trabalho.

Resposta:

    Não sei se compreendi bem o que pergunta. Pelo título e exemplos que apresenta, creio que quer saber como evoluíram do latim para o português palavras que mantiveram ou mudaram de sílaba tónica. Poderei indicar duas obras com o mesmo título – Gramática Histórica da Língua Portuguesa -, de M. Said Ali, Edições Melhoramentos, São Paulo, e de Francisco Júlio Martins Sequeira, Livraria Popular de Francisco Franco, Lisboa e ainda o Compêndio de Gramática Histórica Portuguesa, de José Joaquim Nunes, Clássica Editora, Lisboa. A finalizar, direi só que, na evolução do latim para o português, a sílaba tónica é normalmente conservada. As alterações são raras e ascendem ao próprio latim vulgar. 1. Exemplos de palavras que mantiveram a tónica: – bucinu –> búzio; – cubitu –> côvado; – hospite –> hóspede; – lacrima –> lágrima; – persicu –> pêssego; – vipera –> víbora. 2. Exemplos de palavras em que houve alteração: – alacre –> alegre (mas álacre); – catedra –> cadeira (mas cátedra); – integru –> inteiro (mas íntegro).