D´Silvas Filho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
D´Silvas Filho
D´Silvas Filho
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D´Silvas Filho, pseudónimo literário de um docente aposentado do ensino superior, com prolongada actividade pedagógica, cargos em órgãos de gestão e categoria final de professor coordenador deste mesmo ensino. Autor, entre outros livros, do Prontuário Universal — Erros Corrigidos de Português. Consultor do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Sou o coordenador duma página de literatura luso-canadiana que intitulei Satúrnia em homenagem aos pioneiros luso-canadianos que chegaram a estas paragens a bordo do navio Saturnia.

A minha pergunta é esta: devo escrever Satúrnia ou Saturnia (o nome, de facto, do navio).

Obrigado.

Resposta:

O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado pela Academia das Ciências de Lisboa, em 1940 (também reconhecido no Brasil), regista: Satúrnia: top., nome de várias cidades. Satúrnia: mit., filha de Saturno.

Não foi encontrada «Saturnia», paroxítona.

Ao seu dispor.

Pergunta:

Gostaria que esclarecesse a seguinte dúvida: dever-se-á iniciar um parágrafo com espaço em branco entre a margem e a primeira palavra ou, pelo contrário, não há regra que obrigue a tal?

Resposta:

O parágrafo modelo é uma unidade no texto (com um ou mais períodos) no qual se desenvolve uma ideia central; podendo ter outras (secundárias) associadas. Atendendo a este princípio, o parágrafo deve ficar bem assinalado, sempre que se deseje deixar clara a noção desta unidade.

Um processo de distinguir os parágrafos uns dos outros pode ser usar o sinal constituído por dois ss agrupados na vertical (a parte inferior do mais elevado coincidindo com a superior do mais baixo), com se tem visto em textos oficiais.

Outro processo, usado habitualmente, é avançar algumas letras no início do parágrafo (processo utilizado nesta resposta, onde se ponderou a linha orientadora em cada um dos parágrafos). Nas normas ortográficas o avanço das letras não está expressamente recomendado, mas todo o texto (incluindo o do novo acordo) é elaborado nesta regra.

Também há o hábito de iniciar os parágrafos sem nenhum sinal ou avanço das letras. No meu ponto de vista, isto é legítimo se houver entre parágrafos um intervalo maior do que o usado entre linhas, ou outro qualquer processo de separação.

O que acabo de escrever só se aplica se a necessidade da unidade no parágrafo for, de facto, considerada com interesse pelo autor do texto. Pode não se verificar em composições artísticas (que muitas vezes primam pela polissemia e pela ambiguidade…).

Ao seu dispor,

Pergunta:

Agradeço me informem se reune se deve grafar com ou sem acento agudo no «u».

Muito obrigada.

Resposta:

Reúne, reúno, reúnem, reúna, reúnas, reúnam são acentuadas, segundo as normas, porque existe um hiato entre e e u, sendo u a vogal tónica. Quando u não é tónica, o acento é ilegítimo (ex.: reunimos, reunia, reuni, etc.).

Ao seu dispor.

Pergunta:

Vi recentemente escritas as seguintes palavras desta forma:

pedagogico-didáctico, historico-cultural, tecnico-científico.

Estão correctas? Se sim, porquê?

Resposta:

Diferentemente do que se passa na aglutinação, as palavras unidas por hífen mantêm os mesmos sinais gráficos (e acentos tónicos) que teriam se fossem escritas independentemente. Logo: pedagógico-didáctico/didático, histórico-cultural, técnico-científico.

No entanto, é preciso cuidado com os elementos de formação de palavras que não obedecem às regras de acentuação habituais como, por exemplo, hiper-, inter-, super-, que são pronunciadas como paroxítonas e terminadas em -r, mas não levam acento gráfico (ex.: hiper-requintado, inter-resistente, super-homem).

Veja o tema abatemo-lo.

Ao seu dispor.

Pergunta:

O sinal $ chama-se cifrão. O símbolo do Euro (aproximadamente um C com dois traços horizontais) também merecerá a mesma designação?

É aceitável chamar-lhe euróglifo (inspirado em Euro e em hieróglifo)?

Resposta:

Cifrão vem de cifra (e esta do latim `cifra-´, que significa zero). Os significados de cifra são: algarismo sem valor absoluto, quantia, sinal convencional, etc.

Na minha opinião, nada impede que se designe o símbolo do Euro por cifrão, mas é costume dar essa designação ao símbolo $. Segundo José Pedro Machado, cifrão é o sinal $ que indica o valor em escudos, dólares, etc.

Repare que indica o sinal $, e não outros.

Eu designaria o `símbolo do Euro´ assim mesmo, usando duas palavras, como acabo de escrever. Quanto mais se complica, mais a escrita poderá ser gratificante para algumas pessoas, mas maior será a confusão para o utente indiscriminado.

Confesso que não gosto de «euróglifo». Não só porque se confunde na pronúncia com hieróglifo, mas porque esta última designação está mais relacionada com os caracteres do Antigo Egipto. Hieróglifo (¦ró¦ como escreveu bem, e não ¦glí¦, como se ouve ou vê frequentemente) vem do grego `hierós´ com o sentido de sagrado, mais `glyphein´, com o sentido de gravar. Ora não são estes os sentidos do nosso Euro, simplesmente uma unidade monetária.

Ao seu dispor.