D´Silvas Filho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
D´Silvas Filho
D´Silvas Filho
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D´Silvas Filho, pseudónimo literário de um docente aposentado do ensino superior, com prolongada actividade pedagógica, cargos em órgãos de gestão e categoria final de professor coordenador deste mesmo ensino. Autor, entre outros livros, do Prontuário Universal — Erros Corrigidos de Português. Consultor do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Em linguagem técnica (no caso, da Química) surgem-me por vezes dúvidas quanto à correcção do português, muitas sem dúvida resultantes de más traduções ou de ignorância de certos aspectos da própria língua-mãe. Consultando regras de língua portuguesa, não consegui encontrar regras de hifenação para partículas como di- ou tri-. Assim, queria que me esclarecessem sobre se se deve escrever, por exemplo, di-hidrogenocarbonato, dihidrogenocarbonato ou mesmo diidrogenocarbonato.

Obrigada.

Resposta:

Em palavras novas, se o segundo elemento começa por h e tem vida própria, a regra é as palavras serem compostas por justaposição (com hífen, mantendo-se o h), logo, seria «di-hidrogenocarbonato». Quando há aglutinação, a regra é o segundo termo perder o h (ex.: desumano), logo nunca «dihidrogenocarbonato»

Mas o prefixo di- é normalmente aglutinado (ex.: dicéfalo, dipolo, etc.).; e repare, por outro lado, que se escreve diídrico (Rebelo Gonçalves), embora hídrico tenha vida autónoma.

Assim, eu penso que se deve escrever diidrogenocarbonato. É uma grafia que tem as seguintes vantagens: permite estabelecer como regra que com o prefixo di- se aglutina sempre e permite, com a supressão do supérfluo h, libertarmo-nos da sujeição habitual à história das palavras. A referência a esta última vantagem pode ser considerada um atrevimento irreverente; mas não é a inovação uma das características das línguas vivas (de vivos e não de mortos)?

O raciocínio para o prefixo tri- é semelhante (ex.: triídrico).

Pergunta:

No que diz respeito às unidades que têm por designação nomes próprios (Newton, Pascal, etc.) soube que o seu plural se mantém imutável.

Assim, penso que deve dizer-se "10 Newton" e não "10 Newtons" como foi afirmado numa resposta anterior.

Gostaria que confirmassem novamente esta questão pois a fonte onde obtive esta informação merece tanto respeito quanto a equipa do "Ciberdúvidas".

Obrigado e parabéns por esta iniciativa excelente.

Resposta:

Em relação ao pedido de esclarecimento feito pelo consulente Bruno Filipe Pinheiro e em aditamento à resposta oportuna de J.C.B., sublinho:

Nos documentos em meu poder que dão indicações sobre o Sistema Internacional de Unidades (SI), verifica-se:

a) As unidades escritas por extenso são expressas com inicial minúscula, mesmo quando invocam nomes próprios de pessoas.

b) Num dos documentos aparece grafado, com a indicação de correcto: 18 newtons. Por outro lado, o dicionário Aurélio regista, por exemplo, a unidade becquerel (com inicial minúscula) e indica que o plural é becquerels.

Confirmo, portanto, o que já escrevi:

As unidades escritas por extenso começam com minúscula e têm plural (ex.: horas, newtons, etc). As maiúsculas figuram nos símbolos das unidades quando derivam de nomes próprios de pessoas (ex.: N, Bq, etc.). Os símbolos das unidades não têm ponto nem plural (ex.: 2 h, 3 N, 4 Bq). E, quanto aos símbolos, estamos de acordo que se mantêm sem alteração no plural.

Aceito, porém, que entretanto as recomendações SI tenham mudado.

Uma das características das normas técnicas é a aceitação da obrigatoriedade de mudança muito freq{#u|ü}ente, para fazer face à evolução dos conhecimentos. O que nem sempre se passa, por exemplo, com a norma ortográfica (já com quase meio século na nossa língua e com o acordo de 1990 em banho-maria quanto às intenções, mas em resistência passiva na prática…).

Penso, também, que a actividade da família Ciberdúvidas (consulentes, consultores) é uma...

Pergunta:

Por favor, embora eu fale poliedro, tetraedro, etc. com o e aberto (é), li algures que diedro se pronuncia corretamente "diêdro". Ora, então qual o correto? Nos dicionários que consultei ninguém faz menção à pronúncia correta desta palavra.

Aproveitando também, só ouço as pessoas falarem "levógiro" e "dextrógiro", mas li no dicionário Aurélio que o correto é a forma paroxítona, ou seja, levogiro e dextrogiro. Gostaria muito que me dirimissem esta dúvida.

Atenciosamente.

Resposta:

Em Portugal, pronuncio ¦dié¦ no vocábulo diedro. A consulta do dicionário Aurélio não me permite concluir que seja outra a pronúncia corrente no Brasil.

Segundo Rebelo Gonçalves, o Aurélio, que cita, e outros dicionários, as palavras levogiro e dextrogiro são paroxítonas e não proparoxítonas. De facto, levogiro vem de: latim `laevu-´ (esquerdo) + grego `gýros´ (volta), e não me parece haver razão para a acentuação ¦vó¦; dextrogiro virá originalmente de: latim `dextru-´ (direito) + grego `gýros´ (volta) e igualmente não há justificação para a acentuação ¦vó¦.

Mas leia a minha resposta ao tema mestrado, com data de 1999-JUL-21.

Ao seu dispor,

Pergunta:

A unidade do Sistema Internacional de actividade radioactiva é o becquerel ou Becquerel (Bq)?

Gostaria de saber se as unidades começam por letra minúscula ou maiúscula, mesmo nos casos em que se tratam do nome de alguém que se pretendeu homenagear. Exemplo: curie ou Curie (Ci)?

Gostaria também de saber se os prefixos das unidades se escrevem sempre em maiúsculas ou minúsculas ou se depende da ordem de grandeza, como o kilo (k) ou o mega (M).

Resposta:

Deve escrever um becquerel, dois becquerels, etc., em minúsculas. O símbolo é Bq (de Henry Becquerel), iniciado com maiúscula (ex.: 1 Bq, 2 Bq).

As maiúsculas figuram frequentemente nos símbolos das unidades, quando derivam de nomes próprios de pessoas (ex.: A ampere/s - aportuguesamento de Ampère; N newton/s; Pa pascal/s; dB decibel/s; etc.). Mas há também símbolos expressos só em minúsculas (ex.: kg quilograma/s; cd candela/s; mol mole/s; etc.). Os múltiplos acima de mega (M), inclusive, são representados em maiúsculas (ex.: G giga; T tera; etc.; mas k quilo; h hecto; da deca). Os submúltiplos são todos representados em minúsculas (ex.: d deci; m mili; n nano; p pico; etc.).

De acordo com o espírito das normas em vigor, os nomes próprios dos seres duma dada espécie são normalmente representados com inicial em maiúscula (ex.: homem/Alexandre; gato/Jasmim; cidade/Lisboa; etc.). E assim poderia ser também com os nomes das unidades (ex.: moeda/Euro). Acontece, porém, que, dada a grande quantidade de unidades que derivam de nomes próprios de pessoas, é costume, para evitar ambiguidades, designar o seu nome em minúsculas (ex.: o ampere; o newton; etc.).

Quando representam medidas de grandezas escritas por extenso, são igualmente sempre grafadas em minúsculas (ex.: um euro; dois becquerels; três amperes; quatro newtons; etc.).

Lembro que, segundo o Sistema Internacional de Unidades, os símbolos das unidades só se devem utilizar quando o valor da grandeza está expresso em algarismos (ex.: 2

Pergunta:

A palavra estereotipo/estereótipo é paroxítona ou proparoxítona?

Agradecia os vossos comentários.

Resposta:

Os dicionários Editora, Universal, José Pedro Machado, Aurélio e o Vocabulário de Rebelo Gonçalves registam estereótipo (com acento, logo proparoxítona). É esta, no meu entender, a grafia correcta (vem do grego: `stereós´, sólido + `týpos´, molde).

No entanto, está a dar-se um fenómeno curioso, quanto à evolução da língua, nestas palavras terminadas em -tipo. A comunidade linguística tende a deslocar a tónica para a sílaba -ti-, por lhe parecer mais lógica a pronúncia (conclui tratar-se dum tipo de …..). Acontece com «prototipo», com «logotipo», etc. José Pedro Machado e Aurélio registam já a variante «logotipo», pronúncia muito frequente entre os profissionais da especialidade. É um fenómeno semelhante ao que acontece com biopsia e `biópsia´, termóstato e `termostato´, etc.

Levanta-se aqui o problema de saber quem tem o direito de estabelecer o que é correcto e o que é incorrecto na língua.

Pessoalmente, respeito muito as comunidades cultas, nas opções práticas que escolhem, mesmo quando estão em desacordo com a pureza dos etimologistas. Não serei eu que vá condenar quem pronuncie «estereotipo». O que recomendo sempre é que, embora se pronuncie de acordo com o hábito `generalizado´ na comunidade respectiva (respeitando a evolução da língua), se deve contudo escrever com a grafia oficial (para não se ser considerado ignorante). Neste caso, escrever estereótipo.