D´Silvas Filho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
D´Silvas Filho
D´Silvas Filho
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D´Silvas Filho, pseudónimo literário de um docente aposentado do ensino superior, com prolongada actividade pedagógica, cargos em órgãos de gestão e categoria final de professor coordenador deste mesmo ensino. Autor, entre outros livros, do Prontuário Universal — Erros Corrigidos de Português. Consultor do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

A minha dúvida prende-se com a divisão silábica da palavra conseguia. Ao pesquisar a resposta, encontro con-se-gui-a ou con-se-guia e fico na dúvida se a palavra é trissílabo ou polissílabo.

Muito grata!

Resposta:

  Na palavra conseguia, o i é tónica, logo uma vogal, não uma semivogal, e, portanto, temos o hiato i-a, que forma duas sílabas. Assim, a palavra é um polissílabo: con-se-gui-a. Contudo, é de boa norma numa translineação não deixar uma vogal isolada numa das linhas. Por isso, recomenda-se que a separação seja feita nas sílabas anteriores: con-||seguia, conse-||guia.

Ao seu dispor

Pergunta:

Na utilização de pronomes pessoais referentes à divindade, são geralmente colocados com letra maiúscula: «…viemos adorá-Lo (Mt 2:2)», «…começaram a acusá-Lo (Lc 23:2)», «Amá-Lo com todo o coração». No entanto, alguns autores e tradutores colocam um apóstrofo no meio do pronome: «…viemos adorá-l’O », «…começaram a acusá-L’o», «Amá-l'O com todo o coração». Seria possível explicar se as duas formas estão corretas ou se apenas uma é válida?

Resposta:

     As normas ortográficas são muito claras no uso do apóstrofo. Segundo a Base XVIII do Acordo Ortográfico de 1990, o apóstrofo é usado em quatro casos distintos: •  a) ex.: d’Os Lusíadas; •  b) ex.: d’Ele, n’O, lh’A; •  c) ex.: Sant’Ana; e •  d) ex.: borda-d’água.

     Há, nos quatro casos, cisões com elisão de vogal. 

     No entanto, em b) admite-se que não haja elisões e se inverta a cisão já feita, para realce da forma pronominal: •  no era  em O, agora com realce, e fica  n’O (a maiúscula no interior: *nO seria contrária às regras). 

     Contudo, no caso de lo, acontece que é, ela própria, uma forma pronominal: pronome possessivo oblíquo da 3.ª pessoa (arcaica, era também: artigo definido e pronome demonstrativo, do latim ilu-, aquele). Assim, não parece que sejam legítimas as formas acima *“adorá-l’O, acusá-l’O, Amá-l’O”. Sublinha-se que, de facto, no exemplar do Evangelho em meu poder editado pela Difusora Bíblica, se lê em Mateus 2, 2: «Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? ..... Viemos adorá-Lo» O realce quanto à divindade é dado pela maiúscula inicial do pronome lo; ora, se será de esperar o máximo cuidado com o realce na veneração, é...

Pergunta:

No trecho abaixo, pode-se dizer que "elle" e "delle" atuam como pronome relativo, pois se referem a "Projecto de Constituição"? «Nós quanto antes jurassemos e fizessemos jurar o Projecto de Constituição, [...] mostrando o grande desejo, que tinham, de que elle se observasse já como Constituição do Imperio [...] e delle esperarem a sua individual, e geral felicidade Politica.»

Fonte: Constituição Política do Império do Brazil de 25 de março de de 1824.

Minha maior dúvida, contudo, não é essa e, sim, das relações históricas de utilização de tais pronomes. Certa vez, uma professora afirmou que em português arcaico "elle" era utilizado em orações sem sujeitos, tais como: chove, faz frio. Assim, segundo ela, eram utilizadas construções sintáticas como: «Elle Chove»; «Elle faz frio». Neste caso, "elle" referir-se-ia a um ser abstrato da natureza, algo metafísico, de cuja existência não se tem certeza. Isso procede? Nunca achei nenhuma referência que confirmasse tal alegação.

De qualquer maneira, agradeço a atenção.

Resposta:

 Elle, delle, como relativos

     Nas frases sobre o Projeto da Constituição, estes pronomes são efetivamente equivalentes a: o qual, do qual. Mas em Portugal são construções arcaicas. Notar que a grafia ll nestas palavras caiu em Portugal desde a Reforma de 1911. Nos vocabulários brasileiros também há muito que foi abandonada.

Ele em verbos impessoais

     A frase «*ele chove», no sentido real, penso que aparece como corruptela gramatical popular. De facto, é um contrassenso grafar com sujeito um verbo que gramaticalmente não o tem. Estão neste caso os verbos climáticos (ex.: chover, trovejar, nevar).  

    Do ponto de vista estilístico, porém, posso aceitar o verbo impessoal com sujeito, se a utilização...

Pergunta:

Como ensino um aluno a distinguir o radical latino socio (sociedade = sociologia, sociolingüística) da palavra sócio, a propósito dos processos morfológicos de formação de palavras?

Obrigado pelo vosso maravilhoso trabalho.

Resposta:

Soci(o)- na palavra sociolinguística *

     É um antepositivo derivado do latim sociu-, sócio, aliado, + linguística.

     Notar que sociedade vem do lat. societate- e sociologia, hibridismo: do lat. sociu- + do grego –logia.

Sócio

    É um nome masculino, com o significado de aquele que acompanha, faz coisas em conjunto; ou um adjetivo com o significado de associado.  

   Muito obrigado pelo seu apreço. É sempre um prazer respondermos a consulentes assim interessados na nossa língua.

Pergunta:

Ao ler alguns textos antigos, notei que a palavra ontem era grafada com h, «hontem». Por isso, eu gostaria de saber duas coisas: qual é a etimologia da palavra ontem e por que o h não se manteve nela, mas se mantém em hoje?

De antemão, agradeço a resposta.

Resposta:

Segundo o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado:

Ontem:

    Do latim ad noctem: no dia que terminou com a última noite. Começou por se fixar em Portugal, primeiro por `oonte´, depois `oontem´.

Hoje

    Do latim hodie: neste dia. Já foi simplesmente `hoj´.

Parecer pessoal:

     Depreende-se da etimologia a razão por que ontem não terá h, diferentemente de hoje.

  

    Ao seu dispor,

 

Cf. Ainda a razão da grafia de ontem e de hoje