Começo por transcrever, com a devida vénia, o que se encontra na história de Castanheira de Pera segundo o que está registado nos documentos do Concelho:
«As origens de Castanheira de Pera remontam, certamente, a muitos séculos antes do primeiro documento histórico comprovativo.
O primeiro documento conhecido, referindo nomes de povoações do actual concelho, tem a data de 1467 - é uma sentença de Afonso V sobre os baldios do Coentral. Porém, existe uma lenda que nos fala da princesa Peralta, filha de el-rei Arunce. Esta lenda foi escrita, em 1629, por Miguel Leitão de Andrada
Segundo a lenda, em 72 a.C., fugida de Colimbria, em consequência da invasão do reino, Peralta refugiou-se com seu séquito no Castelo de Arouce (Lousã).
Por influência de Sertório (guerreiro romano que por ela se apaixonou), decidiu ir para Sertago.
No caminho, morreu sua aia, Antígona, que ali mesmo foi enterrada. Sobre a sepultura foi colocada uma lápide com a seguinte inscrição: "ANTÍGONA DE PERALTA AQUI FOI DA VIDA FALTA".
A deusa Vénus, que perseguia a princesa, enviou um poderoso raio, que transformou os acompanhantes em montanhas e a bela Peralta numa formosa sereia, que ficou vivendo nas águas que brotavam da serra.
Esse raio desfez, igualmente, a lápide, onde, para a posteridade, apenas ficou da primitiva inscrição: ANTIG...A DE PERA...
Desta lenda maravilhosa nasceu Castanheira de Pera.»
Parecer pessoal
Da lenda, conclui-se que Pera vem de Peralta. Ora, no seu Dicionário Onomástico, José Pedro Machado afirma que peralta pode significar pedra alta e que o fenómeno de pedra se ter convertido em pêra foi frequente no país, o que confirmaria também a grafia Pêra como tendo origem em peralta. Notar que, na realidade, etimologicamente pêra vem do latim `pira-´ e pedra do lat `petra´.
Ou seja, atendendo ao sentido popular de pêra, à sua ligação a pedra por peralta, aos restos da inscrição na lenda e ao facto de a própria lápide ser de pedra, a grafia Castanheira de Pêra não estava errada, na simbologia aqui tão significativa da palavra Pêra.
No meu ponto de vista, na nova grafia para o AO90: Castanheira de Pera no AO90, Pera continua a ter o mesmo valor simbólico de pedra não do fruto.
Notar, porém, que a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira regista que o nome Castanheira de Pêra deriva da antiga localidade Pêra, que aliás também deu o nome à ribeira de Pêra, o que não invalida as conclusões acima.
D’ Silvas Filho