D´Silvas Filho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
D´Silvas Filho
D´Silvas Filho
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D´Silvas Filho, pseudónimo literário de um docente aposentado do ensino superior, com prolongada actividade pedagógica, cargos em órgãos de gestão e categoria final de professor coordenador deste mesmo ensino. Autor, entre outros livros, do Prontuário Universal — Erros Corrigidos de Português. Consultor do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

É esta resposta válida? São várias as referências a Pera, desde o sítio da Câmara Municipal à página na Wikipédia que inclui a seguinte nota linguística: «A grafia Castanheira de Pera baseia-se na origem do nome desta localidade, que deriva de peralta e não de pêra (fruto da pereira). Aliás, até meados do século XIX, o nome da localidade era Castanheira de Pedrógão. A grafia Castanheira de Pêra está portanto errada, embora seja, infelizmente, muito frequente (incluindo no brasão representado neste verbete). Esta questão, muitas vezes polémica, é resolvida com o AO 1990, já que a palavra pera perde definitivamente o acento circunflexo. 

Resposta:

   Começo por transcrever, com a devida vénia, o que se encontra na história de Castanheira de Pera segundo o que está registado nos documentos do Concelho:

    «As origens de Castanheira de Pera remontam, certamente, a muitos séculos antes do primeiro documento histórico comprovativo.

    O primeiro documento conhecido, referindo nomes de povoações do actual concelho, tem a data de 1467 - é uma sentença de Afonso V sobre os baldios do Coentral. Porém, existe uma lenda que nos fala da princesa Peralta, filha de el-rei Arunce. Esta lenda foi escrita, em 1629, por Miguel Leitão de Andrada

    Segundo a lenda, em 72 a.C., fugida de Colimbria, em consequência da invasão do reino, Peralta refugiou-se com seu séquito no Castelo de Arouce (Lousã).

    Por influência de Sertório (guerreiro romano que por ela se apaixonou), decidiu ir para Sertago.

    No caminho, morreu sua aia, Antígona, que ali mesmo foi enterrada. Sobre a sepultura foi colocada uma lápide com a seguinte inscrição: "ANTÍGONA DE PERALTA AQUI FOI DA VIDA FALTA".

    A deusa Vénus, que perseguia a princesa, enviou um poderoso raio, que transformou os acompanhantes em montanhas e a bela Peralta numa formosa sereia, que ficou vivendo nas águas que brotavam da serra.

    Esse raio desfez, igualmente, a lápide, onde, para a posteridade, apenas ficou da primitiva inscrição: ANTIG...A DE PERA...

...

Pergunta:

Qual é o nome correto que se dá àquele que é natural da Prússia? Vejo muitas vezes o uso do termo prussiano, no entanto, fico sempre incerto dada a aparente origem brasileira do termo, na medida em que os brasileiros também usam gentílicos como polonês em vez de polaco e israelense em vez de israelita. Ainda assim, não sei se o termo prusso existe, apesar de seguir o raciocínio que dá origem ao gentílico da Rússia, russo. Gostaria, portanto, de saber a versão correta do português europeu.

Resposta:

    O consulente levanta uma questão pertinente, para a qual a simples consulta em motores de busca na Internet não é suficiente. Os problemas na língua exigem frequentemente a consulta em livros idóneos, não acessíveis `em linha´.

    Prussiano está registado no Dicionário Etimológico de José Pedro Machado (como derivado do top. Prússia desde XVII), no Vocabulário da Academia das Ciências de Lisboa (ACL, 1940), no Vocabulário de Rebelo Gonçalves (1966) e, presentemente, no Dicionário Houaiss.

    Prusso aparece no Vocabulário da ACL e também no de Rebelo Gonçalves, mas, neste, com a referência ant. → antigo nome.

 

    Parecer pessoal

    Embora prusso, da Prússia, seja legítimo, como russo da Rússia, segundo Rebelo Gonçalves o termo atual conveniente no português europeu é prussiano.

    Interessa-me pouco saber quem começou a usar o termo, se foi Portugal ou o Brasil, pois a língua é a mesma. Inclino-me para que o Brasil se tenha inspirado no Vocabulário da ACL de 1940, na altura a referência na língua, como hoje é o amplo e valioso <...

Pergunta:

Não me recordo de uma palavra e já tentei pesquisar sem sucesso. Será que alguém me pode ajudar? A palavra quer indicar a passagem de pais para filhos que não seja algo genético. Por exemplo, o medo de aranhas pode passar de pais para filhos, mas não é hereditário que se diz, porque não é genético, como por exemplo a cor dos olhos, que é hereditário, visto ser genético. Alguém me sabe dizer qual a palavra que explica o que digo?

Obrigado!

Resposta:

     Comecemos por distinguir o que é inato do que é adquirido. Os  caracteres inatos dizem respeito à genética, às transformações que se processaram nos nossos genes com a evolução e passaram aos descendentes pelas leis da genética; os adquiridos, à influência do ambiente.

    Quanto ao medo, tudo o que possa ser perigoso para a vida é recusado nessas características inatas; no sublinhado por Damásio em homeostasia: a tendência da vida para “persistir e prevalecer”.

    Inclui-se, naturalmente, por exemplo, o medo às aranhas, pela verificação da capacidade de imobilização das presas; bem como às cobras, pelo ataque inesperado e pelo veneno de morte.

    O medo exagerado, a fobia, não me parece que seja inato, mas adquirido: por experiências traumáticas ou por uma influência formativa nefasta. Pode, também, ser uma deficiência específica mental do indivíduo. Sempre com a ressalva de que haja já no ADN familiar uma mutação persistente que determine essa tendência, então genética.

    Não sendo genética, a tendência terá passado de pais para filhos por hábitos familiares; e, logo, será adquirida.

    Assim, sugiro para estes casos duvidosos o termo transmitido, permitindo a ambivalência da transmissão inata ou da adquirida. O termo genético representa `normalmente´ uma inevitabilidade inata. Aceito, porém, que especialistas consigam termo mais adequado, o que agradecemos.

    ...

Pergunta:

Gostaria de saber a vossa opinião sobre a seguinte questão: ontem, num programa de televisão, um apresentador disse, referindo-se a uma rapariga: «ela é uma de nós (angolanos)» e foi muito criticado nas redes sociais. Segundo as pessoas, ele (por ser homem) deveria ter dito: «ela é um de nós (angolanos)».

Pergunto: será que a frase dele está mesmo errada, sendo que ele se refere a (fala de) uma rapariga?

Resposta:

Mesmo invocando a concordância de sentido (considerando a palavra «angolanos» representando os dois géneros), a frase «*ela é uma dos angolanos» não tem coesão, é graficamente inaceitável.

Por outro lado, em «ela é um dos angolanos», a falta de concordância com o sujeito é chocante; e, além disso, no nosso tempo, em que as senhoras não aceitam, e com razão, que o seu género seja subestimado, eu também a recusaria. Escreveria qualquer coisa do género: «Ela é uma angolana, como todos os angolanos».

Isto acontece devido à ambivalência de género possível da palavra «angolano», que nem sempre acerta com a convenção forçada de o masculino representar a totalidade.  

Ora, o pronome nós é inequivocamente de ambos os géneros. Assim, eu já aceitaria escrever: «ela é uma de nós.» Penso que se respeita a concordância natural e não se restringe o género. Escrevendo-se nós, consideram-se todos, angolanas e angolanos.

Em resumo, o apresentador não errou. 

Ao seu dispor,

Pergunta:

Como é que se devem escrever agora nomes próprios antigos, por exemplo, Anthero de Figueiredo ou Antero de Figueiredo? Como citar nomes de publicações antigas, "A Illustração Portugueza" ou "A Ilustração Portuguesa"?

Obrigado.

Resposta:

A norma ortográfica em vigor (AO90) regista:

«Para ressalva de direitos, cada qual poderá manter a escrita que, por costume ou registo legal, adote na assinatura do seu nome.», sublinhado meu.

    O mesmo é válido para firmas, marcas, títulos, etc., registados.

 

Parecer pessoal

     O sublinhado de “poderá” significa que se deve “aceitar” a exceção, depreendendo-se que a regra é atualizar a ortografia “oportunamente”, sempre, quando a norma muda. Em registos ou referência a entidades, singulares ou coletivas, que já não existem deve escrever-se com a norma em vigor.

    Como em tudo, porém, é preciso bom senso. Não faz sentido, por exemplo, numa mudança ortográfica querer ir mudar logo a lápide de um cemitério, o nome de uma rua, etc. No entanto, se nos referimos a alguém que registou ainda o seu nome como Víctor, é “normal” que hoje se escreva “o Vítor”.

    Ainda no bom senso, recomenda-se:

    Se houver vários possíveis e só um seja “o Víctor” é aceitável que este se distinga dos restantes, embora haja sempre o risco de parecer troça ou pedantismo. Por outro lado, em entidades atuais que mant...