Pergunta:
Com o respeito que tenho pelos prezados consultores, conhecedores que são do português culto, gostaria de externar que não concordo com o comentário de C. M./C. R., na resposta dada em 16/01/2009 com o título "Eu vi-os, ele e a mãe, entrarem na igreja". Não obstante ser o ensino uma área em que os governos – municipais, estaduais e Federal – pouco investem ou se preocupam no Brasil, não é verdade e não se pode generalizar que dizer "Eu vi ELE e a mãe dele entrarem na igreja" é uma forma aceita no português brasileiro. Desde a infância ouço a frase "Eu VI ELA", como exemplo de que não se pode usar o pronome pessoal como objeto direto, pois além de não ser correto, nesse exemplo ainda soa mal, já que VIELA é uma rua estreita ou beco. Creio que coloquialmente ainda sejam usadas, mas sempre há alguém por perto a repreender o interlocutor de tais frases. Dizer, mesmo entre parênteses, que tais frases são aceitas no português brasileiro soa menos como verdade e mais como preconceito, como se todos os brasileiros falassem ou escrevessem muito mal.
É a minha humilde e sincera opinião, a qual em nada faz desmerecer o brilhante trabalho desenvolvido pelo Ciberdúvidas, que é um espaço democrático e aberto ao diálogo e às contestações.
Grato pela oportunidade.
Resposta:
Agradeço a sua observação, que me permitiu introduzir pequenas correcções na resposta em causa. Todavia, convém esclarecer alguns pontos:
1. Quando se diz que no Brasil se aceita ou é corrente o uso do pronome sujeito em lugar do clítico, adopta-se um ponto de vista que é descritivo e não normativo quer sobre o uso quer mesmo sobre atitudes normativas.
2. No entanto, no Brasil, há quem contemple o facto mencionado no ponto anterior, pelo menos, em gramáticas que parecem propor uma norma mais sensível às realidades do uso linguístico brasileiro. Com efeito, na Gramática de Usos do Português (São Paulo, Editora Unesp, 2000, pág. 453), de Helena de Moura Neves, afirma-se que «também é comum, na conversação, o emprego dos pronomes tônicos como sujeito do infinitivo, nessas construções: [...] Manda ELE fugir daqui! [...] Entretanto, essa construção já aparece em textos literários. Mas foi apenas um instante de desconfiança, o dele, e ele sorriu pegando-a, toda e suave como ela era, e tão curiosa como uma mulher é curiosa, o que fez ELE se lembrar de sua esposa. [A maçã no escuro, Clarice Lispector]»
3. Em Portugal, a atitude normativa a respeito de «vi ela» é de completa rejeição; e, apesar de haver falantes que usam o pronome sujeito no contexto em discussão, é também verdade que muitos falantes, independentemente do seu nível sociocultural, continuam a empregar o clítico: «eu vi-a».
4. Assim, e, repita-se, dado que a perspectiva adoptada era descritiva e não normativa, não se entende que se diga que a resposta está eivada de preconceito. Não é verdade, porque o que se pretende é mostrar tendências evolutivas de uma das variedades da lín...