Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria de saber o porquê de o mirandês ter sido considerado língua e como se chega a esse patamar; e também se o dialecto açoriano poderia ser considerado língua, e, se não, quais os requisitos que faltariam. É porque sinceramente vejo no mirandês distorções de palavras, aquilo que também encontro no açoriano. Ou seja, como é possível adivinhar, a minha questão final seria: se mirandês é língua, porque não o é também o açoriano, ou até o madeirense (embora não esteja muito por dentro desta última)?

Resposta:

1. Do ponto de vista genético, o mirandês não faz parte do mesmo sistema linguístico histórico que o português: os dialectos mirandeses fazem parte do sistema dialectal asturo-leonês, e o português-padrão e normativo pertence ao sistema dialectal galego-português.

2. Não há um dialecto açoriano mas vários, em função das ilhas existentes e de certa variação numa mesma ilha (por exemplo, São Miguel, que é a mais extensa). Na Madeira, a variação não será tão ampla, e por isso se fala no dialecto ou falar madeirense. Ora bem, considera-se que estes dialectos constituem parte do sistema dialectal galego-português, aceitando os falantes dos mesmos que a variedade que usam é uma fracção desse conjunto, que em Portugal tem expressão institucional mediante uma norma transregional, usada na administração do país. Para serem línguas, teriam de atravessar um processo de autonomia pelo qual as comunidades que os usam reivindicariam uma diferenciação com expressão institucional. De certo modo, foi este o processo do mirandês: no dealbar do século XX, Leite de Vasconcellos revelou à comunidade científica a existência de uma série de falares de origem leonesa na Terra de Miranda; esses dialectos tinham características gramaticais e lexicais comuns que contrastavam quer com os dialectos portugueses transmontanos quer com a norma portuguesa; a estreita afinidade dos dialectos mirandeses levou a falar-se em mirandês em geral; os habitantes da Terra de Miranda começaram a valorizar o mirandês como traço da sua identidade; e o processo culminou no reconhecimento do mirandês como língua oficial regional, com os seus próprios instrumentos de regulação (por exemplo, uma ortografia).

É por isso que dizemos que o

Pergunta:

Qual o gentílico de Ottawa (Otava), capital do Canadá?

Muito obrigado.

Resposta:

Não existe forma gentílica consagrada, mas Luiz Autuori e Oswaldo Proença Gomes, em Nos Garimpos da Linguagem, Rio de Janeiro, Livraria S. José, 4.ª edição), propõem otavano e otavense. Confirmo também que a forma portuguesa do nome da cidade em apreço é Otava (cf. Rebelo Gonçalves, Vocabulário da Língua Portuguesa, 1966, e Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, Porto Editora, 2009).

Pergunta:

Qual o gentílico de Jacarta, capital da Indonésia?

Muito obrigado.

Resposta:

Não existe forma generalizada. Luiz Autuori e Oswaldo Proença Gomes (Nos Garimpos da Linguagem, Rio de Janeiro, Livraria S. José, 4.ª edição) propõem jacartês, que é forma correcta na língua portuguesa.

Pergunta:

Qual o gentílico de Niassalândia, atual Malauí? Seria "niassa", ou "niassalândio", ou ainda "niassalando"?

Muito obrigado.

Resposta:

Não existe termo generalizado. No entanto, é de observar que as formas propostas são anómalas se tivermos em conta que outros geónimos terminados pelos elementos -lândia e -landa têm gentílicos em -landês: Islândia, islandês; Irlanda, irlandês. Por isso, parece-me mais adequado que o gentílico correspondente a Niassalândia (nome que de resto já não se usa) seja niassalandês.

Pergunta:

Qual é o gentílico de Riade, capital da Arábia Saudita, se é que ele existe?

Muito obrigado.

Resposta:

Não existe forma generalizada, o que significa que se abre um leque de possibilidades: riadense é talvez a que se perfila de imediato, dada a produtividade do sufixo -ense na formação de gentílicos.