Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

O que é iode? De onde surgiu?

Resposta:

É um termo usado em estudos especializados, no âmbito da investigação em linguística, para designar uma semiconsoante ou semivogal palatal, como o i de iate. Segundo o Dicionário Houaiss, o iode é uma «semiconsoante ou semivogal que compõe ditongos crescentes ou decrescentes, como nas palavras do português iaiá e jeito». Segundo o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, o termo terá surgido em português talvez na segunda metade do século XIX, como adaptação do francês yod, por sua vez, originário do alemão, «[...] que exportou o vocábulo com as obras de glotologia germânica» (glotologia = linguística). A mesma fonte observa que o termo tem origem ainda mais recuada, visto que era o «[...] nome da 10.ª letra do alfabeto fenício primitivo».

Pergunta:

Qual o processo de formação presente na palavra plastisfera?

Resposta:

Plastisfera é uma amálgama formada pela truncação plasti-, de plástico, e (e)sfera, «globo», seguindo o modelo do inglês plastisphere. O termo designa um ecossistema marinho caracterizado pela presença de desperdícios plásticos em grandes áreas oceânicas.

Pergunta:

O verbo comprazer-se rege qual das preposições – a ou em («Ele compraz-se em/a humilhar os outros»)?

Resposta:

Com infinitivos, o verbo comprazer, usado com pronome reflexo, seleciona a preposição em: «Ele compraz-se em humilhar os outros» (cf. Dicionário Gramatical de Verbos Portugueses, Texto Editora, 2007).

Pergunta:

Gostaria de saber se o termo backup pode ser utilizado em língua portuguesa e se existe algum sinónimo.

Muito obrigada.

Resposta:

O empréstimo de origem inglesa backup é usado na gíria informática e pode dizer-se que já faz parte da língua portuguesa, porque os dicionários o registam (ver Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, Dicionário Priberam da Língua Portuguesa). O Dicionário Houaiss (edição brasileira, 2001) tem até como entrada o aportuguesamento becape. No entanto, existem propostas de termos equivalentes em português, de configuração mais vernácula:

– «cópia de segurança»: é expressão que faz parte da própria definição de backup no dicionário da Porto Editora;

– salvaguarda: é termo proposto pelo Glossário da Sociedade da Informação (2011), embora não pareça ter-se generalizado.

Cf. 8 palavras que os ingleses nos roubaram

Pergunta:

Sobre a função sintática de demasiado em «a Ana é demasiado rápida», [dizem-me que é] modificador do adjetivo, [o que] tem lógica, mas as gramáticas e manuais que utilizo não contemplam a função sintática de modificador do adjetivo.

Existe o modificador do adjetivo?

Resposta:

O Dicionário Terminológico (DT) não inclui termos como «modificador do grupo adjetival» ou «modificador do adjetivo», o que sugere que não se aceita tal função sintática. Assim, em relação a «demasiado rápida»:

a) ou consideramos que «demasiado rápida» é uma forma analítica da flexão em grau do adjetivo, enquadrando-a no domínio da morfologia, sem lhe atribuir função sintática especial;

b) ou, seguindo a Gramática do Português (GP) da Fundação Calouste Gulbenkian (2013, p. 1364), classificamos demasiado como um especificador adverbial (este termo não faz parte do DT), conforme se define na seguinte descrição (sublinho demasiado):

«[...] [O] sintagma adjetival pode conter especificadores adverbiais [...].

Os especificadores do adjetivo ocorrem à sua esquerda, sendo geralmente advérbios ou locuções adverbiais que se podem agrupar em duas subclasses [...]:

*advérbios e locuções adverbiais com valor quantificacional, geralmente associados à expressão de grau dos adjetivos: bastante, completamente, demasiado, duplamente, excessivamente, extraordinariamente, ligeiramente, menos, muito, nada, pouco, «um pouco», «um tanto»:

(5) a. Fui ouvir um advogado [muito famoso].
        b. O Luís comprou um livro [bastante raro].
        c. Tenho um aluno [nada tolo].
        d. O tanque está [completamente cheio].
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