Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria de saber qual a origem da palavra boccia. É uma atividade física e desportiva, de interior ou exterior, concebida, enquanto desporto paralímpico, para as pessoas com deficiência/incapacidade motora.

Grata pela atenção.

Resposta:

A palavra boccia, usada como designação da atividade mencionada na pergunta, é um empréstimo do italiano. É vocábulo empregado em várias aceções, entre elas, na de «bola» ou «malha», para designar um jogo popular italiano, mais conhecido pelo plural bocce, redução da expressão «gioco delle bocce», ou seja, «jogo das bolas» (cf. artigo em italiano na enciclopédia Treccani).

Note-se, porém, que o Dicionário Houaiss (1.ª edição, de 2001) regista o aportuguesamento bocha, identificado como regionalismo do Rio Grande do Sul e usado em duas aceções: «jogo praticado com diversas bolas grandes e uma pequena (bolim), todas de madeira ou de plástico denso [atirado o bolim, numa cancha de dimensões regulamentares, cabe a cada um dos jogadores fazer rolar as bolas maiores para que dele se aproximem ao máximo.]»; e, por metonímia, «cada uma das bolas empregadas nesse jogo». Em nota etimológica, a mesma fonte observa que, pelo menos, no Brasil, a palavra foi introduzida por via do espanhol: «[do] espanhol bocha (1726), tomado ao italiano boccia "bola de madeira para jogar, jogo da bocha, botão de flor" (sXVI e XVII), provavelmente ligado ao latim vulgar *bottia "protuberância, tumor, inchação", de origem obscura [...].»1

Um último comentário: apesar de a entrada bocha do Dicionário Houaiss se relacionar apenas com o jogo popular italiano, considero que tem uso igualmente legítimo como designação do desporto em causa, dado que se trata de uma adaptação de boccia.

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Pergunta:

Qual é a origem do nome Arnaldo?

Resposta:

É um nome que tem origem germânica, isto é, foi formado com elementos vocabulares de línguas da mesma família que o alemão ou o neerlandês. Segundo o Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, Arnaldo é nome que apareceu em português por transmissão de uma forma francesa (Arnaut) ou italiana (Arnaldo), com origem numa expressão do antigo alto-alemão: arin (= «águia») + waldan (= «governar»), ou seja, «águia forte» ou, ainda, «poder da águia», conforme se propõe no portal Behind the Name (em inglês, informação sobre Arnold, nome cognato de Arnaldo).

Pergunta:

O que é iode? De onde surgiu?

Resposta:

É um termo usado em estudos especializados, no âmbito da investigação em linguística, para designar uma semiconsoante ou semivogal palatal, como o i de iate. Segundo o Dicionário Houaiss, o iode é uma «semiconsoante ou semivogal que compõe ditongos crescentes ou decrescentes, como nas palavras do português iaiá e jeito». Segundo o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, o termo terá surgido em português talvez na segunda metade do século XIX, como adaptação do francês yod, por sua vez, originário do alemão, «[...] que exportou o vocábulo com as obras de glotologia germânica» (glotologia = linguística). A mesma fonte observa que o termo tem origem ainda mais recuada, visto que era o «[...] nome da 10.ª letra do alfabeto fenício primitivo».

Pergunta:

Qual o processo de formação presente na palavra plastisfera?

Resposta:

Plastisfera é uma amálgama formada pela truncação plasti-, de plástico, e (e)sfera, «globo», seguindo o modelo do inglês plastisphere. O termo designa um ecossistema marinho caracterizado pela presença de desperdícios plásticos em grandes áreas oceânicas.

Pergunta:

O verbo comprazer-se rege qual das preposições – a ou em («Ele compraz-se em/a humilhar os outros»)?

Resposta:

Com infinitivos, o verbo comprazer, usado com pronome reflexo, seleciona a preposição em: «Ele compraz-se em humilhar os outros» (cf. Dicionário Gramatical de Verbos Portugueses, Texto Editora, 2007).