Os casos em questão são exemplo do uso dos quantificadores numerais como adjetivos numerais.
No entanto, deve ser tido em atenção que o Dicionário Terminológico (DT) não abrange estes casos, o que se compreende, porque o DT é uma lista de termos e das suas definições, e não uma gramática. É necessário consultar, por exemplo, a Nova Gramática do Português Contemporâneo (1984, pág. 374), na qual Celso Cunha e Lindley Cintra se referem a este uso dos numerais cardinais – ou seja, daquilo a que o DT chama quantificadores numerais –, em lugar dos numerais ordinais – isto é, os adjetivos numerais do DT:
«Na enumeração de páginas e de folhas de um livro, assim como na de casas, apartamentos, quartos de hotel, cabines de navio, poltronas de casas de diversões e equivalentes, empregam-se os [numerais] CARDINAIS [em lugar dos numerais ordinais]. Nestes casos sente-se a omissão da palavra número:
Página 3 (três) Casa 31 (trinta e um)
Folha 8 (oito) Apartamento 102 (cento e dois)
Cabine 2 (dois) Quarto 18 (dezoito) [...].»
A Gramática do Português (2013, p. 929/930) da Fundação Calouste Gulbenkian, considera igualmente que tais usos dos cardinais são equivalentes aos dos ordinais:
«Os numerais cardinais podem ser usados com o valor de ordinais. Neste caso, ocorrem geralmente em forma invariável à direita do nome e servem para especificar um exemplar único do tipo denotado pelo nome, ou seja, para tornar o sintagma nominal de certo modo equivalente a um nome próprio (cf., por exemplo, "página duzentos e um"). Quando o nome a que se associam é um nome próprio são muitas vezes escritos em numeração romana: p. e., "João XXI", "Luís XIV. Neste uso, podem representar também, como assinala Neves (1999: 597), a numeração de "casas, apartamentos, quartos de hotel, cabines, poltronas de casas de eventos" (p. e., "moro no n.º 25 desta rua", "o meu quarto é o 307", "o meu lugar é o 20 da fila B").»