Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria de ter uma análise sintática da frase «Pessoas de boa índole agem favoravelmente a seu próximo»,  mais especificamente o valor sintático do advérbio favoravelmente.

Resposta:

Sobre a frase em apreço, proponho a seguinte análise, de acordo com a Nomenclatura Gramatical Brasileira de 1959 e a Moderna Gramática Brasileira (Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 2009, págs. 408/409), de Evanildo Bechara:

«Pessoas de boa índole» = sujeito;

«agem favoravelmente a seu próximo» = predicado;

«favoravelmente» = adjunto adverbial;

«a seu próximo» = complemento do advérbio.

Assinale-se que o advérbio favoravelmente pode ocorrer com regência, selecionando um complemento – «favoravelmente ao seu próximo» –, uso que é abonado pelo dicionário da Academia das Ciências de Lisboa [«A Academia Portuguesa de História [...] pronunciou-se também favoravelmente ao projeto» (Expresso, 28.5.1988)] e pelo Dicionário de Regimes de Substantivos e Adjetivos (São Paulo, Globo, 2005), de Francisco Fernandes.

Pergunta:

O diminutivo de  – como depreciativo de  – escreve-se com, ou sem, acento na primeira sílaba?

"Fézinha", ou "fezinha"?

Resposta:

Escreve-se fezinha, tal como fezada (forma usada coloquialmente, na aceção de «grande convicção, palpite»).

Na escrita de diminutivos formados com os sufixos -zinho e -zito, as palavras agudas e os monossílabos acentuados (p. ex., café, , , , ) que servem de base a tais diminutivos perdem o acento gráfico na derivação; daí escrever-se cafezinho, pezinho, pazinha, pozinho e fezinha. Note-se que, tal como pazinha e pozinho, que têm a e o abertos foneticamente, as palavras cafezinho, pezinho e fezinha mantêm aberta a vogal e na pronúncia. É de assinalar que estas grafias já existiam no contexto da antiga norma ortográfica e não foram alteradas pelo novo acordo.

Pergunta:

Gostaria de saber qual o modo correto de pronunciar a palavra Ramsés.

Muito obrigado.

Resposta:

No nome próprio Ramsés, a sequência ams é pronunciada do seguinte modo: o a é fechado, o m é articulado como [m], ou seja, como em mesa, e o s é uma sibilante surda, como o s de serra, os ss de nesse ou o c de cena. Em suma, o nome em apreço soa como se fosse escrito "ramessés".

Pergunta:

Como fica o plural de pró-social?

Resposta:

 O plural de pró-social é pró-sociais, tal como o plural de pró-americano é pró-americanos, ou seja, o elemento que se segue ao hífen pode ter plural.

<i>Cluster</i>, um anglicismo intraduzível?

Como termo de certas áreas especializadas, o anglicismo cluster não é nenhuma novidade: aparece há alguns anos em português, tal como sucede noutras línguas românicas (por exemplo, espanhol ou francês). Disto mesmo dão prova os dicionários monolingues em linha, que já registam a palavra, definindo-a genericamente como «aglomerado de coisas semelhantes» (ver cluster no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa ). Estas fontes incluem ainda os usos de cluster nos âmbitos cientifico e técnico: em linguística, «grupo de duas ou mais consoantes seguidas»; em informática, «unidade de armazenamento num disco» (ibidem; ver também o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, disponível na Infopédia). Igualmente na informática, cluster pode também intrometer-se no discurso em português, com outra  aceção possível em inglês: «conglomerado de computadores» (Dicionário Inglês-Português da Porto Editora, na Infopédia).