Trata-se da dedicatória escrita por Fernando Pessoa (1888-1935) no verso de uma fotografia que ele ofereceu à namorada, Ofélia Queirós (1900-1991) – cf. "'Em Flagrante de Litro', ou uma Segunda História de Amor", no blogue O meu Pessoa, de Ricardo Belo de Morais. Na imagem, aparece o próprio poeta a beber álcool, no ambiente popular do depósito da casa Abel Pereira da Fonseca, situação não propriamente prestigiante, que inspira um trocadilho entre jocoso e irónico com uma expressão mais convencional, «flagrante delito», termo jurídico que significa «facto punível que é descoberto no próprio momento em que é cometido» (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa). O substantivo delito surge assim deturpado como "delitro", forma que não existe a não ser como jogo verbal que permite incluir litro e ativar a associação desta palavra ao seu campo lexical, ou seja, aos vocábulos ligados ao consumo de bebidas alcoólicas, como aguardente, vinho, garrafa ou copo.
Cf.: Fernando Pessoa: 10 das melhores frases do génio
N.E. – De uso específico no Brasil há o verbo flagrar: «Apanhar em flagrante; surpreender.» Com o sentido, também (tal como em Portugal) de «arder; inflamar-se.»