Pergunta:
Como fica o plural de pró-social?
Resposta:
O plural de pró-social é pró-sociais, tal como o plural de pró-americano é pró-americanos, ou seja, o elemento que se segue ao hífen pode ter plural.
Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.
Como fica o plural de pró-social?
O plural de pró-social é pró-sociais, tal como o plural de pró-americano é pró-americanos, ou seja, o elemento que se segue ao hífen pode ter plural.
Como termo de certas áreas especializadas, o anglicismo cluster não é nenhuma novidade: aparece há alguns anos em português, tal como sucede noutras línguas românicas (por exemplo, espanhol ou francês). Disto mesmo dão prova os dicionários monolingues em linha, que já registam a palavra, definindo-a genericamente como «aglomerado de coisas semelhantes» (ver cluster no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa ). Estas fontes incluem ainda os usos de cluster nos âmbitos cientifico e técnico: em linguística, «grupo de duas ou mais consoantes seguidas»; em informática, «unidade de armazenamento num disco» (ibidem; ver também o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, disponível na Infopédia). Igualmente na informática, cluster pode também intrometer-se no discurso em português, com outra aceção possível em inglês: «conglomerado de computadores» (Dicionário Inglês-Português da Porto Editora, na Infopédia).
Diz-se «página trinta e um», ou «página trinta e uma»?
Com o numeral cardinal, não se faz concordância e deve dizer-se «página trinta e um», considerando-se que a expressão é elipse de «página (número) trinta e um». É isto que diz Celso Cunha na sua Gramática do Português Contemporâneo (Belo Horizonte, Editora Bernardo Alves, 1970, p. 197; mantém-se a grafia original):
«4.º Na enumeração de páginas e de fôlhas de um livro, assim como na de casas, apartamentos, quartos de hotel, cabines de navio, poltronas de casas de diversões e equivalentes empregam-se os CARDINAIS. Nestes casos sente-se a omissão da palavra número:
Página 3 (três)
[...]
Cabine 2 (dois)
[...]
Casa 31 (trinta e um) [...]
Se o numeral vier anteposto, usa-se o ordinal:
Terceira página
Oitava fôlha
Segunda cabine
Trigésima primeira casa [...].»
Evanildo Bechara, na Moderna Gramática Portuguesa (37.ª edição, de 2009), entende que também é assim, embora apresente argumentação ligeiramente diferente:
«Na referência a páginas ou capítulos de livro, usam-se as preposições em ou a. Com em emprega-se a palavra página, folha ou capítulo no singular seguida do cardinal, se for superior a dez, podendo até aí usar-se o ordinal, anteposto ou posposto:
Na página 32 há um erro de revisão / na folha 32 / no capítulo 32
Na página dois faltou uma vírgula / na folha 2 / no capítulo dois
Na página segunda ou na segunda página / na folha segunda / no capítulo segundo
Com a preposição a, usa-se o substantivo no plural:
A páginas 12/A folhas 12
Note-se que se pode dizer "à página dois", "a páginas duas", "a páginas vinte e uma", "a páginas tantas", "na página dois", "na página vinte e um", "na página vigésima primeira". Em resumo: com página, no singular, o cardinal fica invariá...
O termo "triliões" existe? E quanto vale, de facto, 1 trilião?
Como vejo escrito com sentidos diferentes em Angola, no Brasil e em Portugal...
Agradeço a ajuda.
A palavra trilião está registada nos dicionários e nos vocabulários ortográficos (por exemplo, no de Rebelo Gonçalves, de 1966 ou, mais recentemente, Vocabulário Ortográfico do Português). Contudo, o seu significado nem sempre é o mesmo nos diferentes países de língua portuguesa. No Brasil, tendo em conta que bilião ou a variante bilhão são empregadas no sentido de «mil milhões», um trilião (ou trilhão, na variante aí mais corrente) é o mesmo que «mil biliões» – de forma mais clara, corresponde a 1012, isto é, um 1 seguido de 12 zeros. Em Portugal, em Angola e noutros países, um bilião é «um milhão de milhões», e, portanto, «um trilião» deve ser interpretado como «um milhão de biliões» – ou seja, 1018 (1 seguido de 18 zeros; ver Norma Portuguesa 18: 2006, sobre nomenclatura dos grandes números).
Historicamente, o contraste existente entre o uso brasileiro e o dos outros países de língua portuguesa — escala curta e escala longa, respetivamente — tem que ver com o facto de a chamada "regra dos 6N" não ter sido seguida pelo Brasil, como regista o Dicionário Houaiss, 2001:
«regra 6 regra, unanimemente adotada pelos Estados-membros para o Sistema Internacional de Pesos e Medidas na IX Conferência Internacional de Pesos e Medidas em Paris (1949), de que o Brasil faz parte, se...
Na zona centro do país, o verbo ir é regido pela preposição a – ex.: «vamos a ver se consigo finalizar a tarefa», ou «meninos, vamos a comer!» , em vez de «vamos ver se consigo...» e «meninos, vamos comer!».
Está correto?
Agradecia um esclarecimento.
A construção em apreço está correta, mas não é específica de um falar regional. Na verdade, pertence ao português em geral e não significa exatamente o mesmo que «ir» + infinitivo.
«Ir a» + infinitivo pode ter os seguintes valores:
a) «vamos a...»: usa-se «para incitar uma ação ou uma mudança de ação» (ver ir no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa); exemplos: «vamos ao que interessa», «vamos a isso», «vamos ao trabalho» – e podemos aqui juntar o uso com infinitivo, ou seja, «vamos a ver»;
b) «ia a» + infinitivo: «a criança ia a dormir ao colo da mãe».
O uso descrito em b), com o verbo no pretérito imperfeito do indicativo, é também referido no Dicionário de Verbos e Regimes (1947), do gramático brasileiro Francisco Fernandes, que observa: «Às vezes costuma-se introduzir a preposição a entre o verbo ir e o infinitivo: "Ia a sair, quando lhe lembrou a morte e pediu ao Florindo que lhe escrevesse duas linhas".»
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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