Pergunta:
No texto de abertura do passado dia 8 de Abril, fiquei admirado de ter lido que "ôro" é a pronuncia-padrão da palavra ouro. Confessem-me que é uma mentira atrasada do dia 1 de Abril...!
Resposta:
Quando se fala em pronúncia-padrão, não significa que, com esse termo, se refira uma pronúncia vista como a única correta. Nem se julgue que a grafia é espelho da pronúncia (julgar isso é que poderá ser ser, paradoxalmente, a verdadeira mentira de 1 abril). Vou procurar, portanto, esclarecer um pouco melhor a afirmação feita na Abertura em causa.
Em Portugal e noutros países de língua portuguesa, as palavras escritas que exibem ou são geralmente pronunciadas não com o ditongo [ow], mas, sim, com a vogal [ô] (o chamado o fechado). Numa perspetiva puramente descritiva (não normativa), é isto que se observa junto de muitos falantes, se não mesmo entre a maioria dos falantes do português do Centro e do Sul de Portugal.
Nada do que se acaba de referir entra em choque com conservação do ditongo pelos falantes do terço norte de Portugal; mas a verdade é que a pronunciação representada nas transcrições fonéticas disponíveis nos dicionários – dê-se o caso do dicionário da Academia das Ciências de Lisboa – indica uma vogal simples, e não um ditongo. Pode argumentar-se que nos dicionários produzidos no Porto se transcreve <ou> como ditongo – [ow] (ver transcrição fonética de ouro no dicionário da Porto Editora, disponível na Infopédia). É isto verdade, mas o símbolo da semivogal [w] figura entre parênteses, indicando-se que esta semivogal é possível e aceitável na articulação, mas não é obrigatória: «ouro [...] [ˈo(w)ru]».
Parece, portanto, que a pronúncia mais comum que corresponde à grafia <ou> é com uma vogal simples – "ô". E, além de ser mais comum, a redução do ditongo a vogal simples é também um traço da pronúncia-padrão correspondente à grafia <ou>. Não se pense...