Pergunta:
Gostaria de saber se podemos colocar vírgula a seguir a um complemento direto, quando este inicia a frase, como por exemplo na seguinte frase: «O livro, deu-lhe ele.»
E poderá acontecer o mesmo com o complemento indireto?
Muito obrigada.
Resposta:
Entre as fontes disponíveis, total ou parcialmente dedicadas à pontuação1, não se encontraram indicações precisas sobre o uso da vírgula em situações como as descritas na pergunta. Estas configuram as chamadas construções de topicalização, isto é, estruturas resultantes da deslocação de constituintes frásicos da sua posição canónica2 para o começo da frase.
No entanto, mais recentemente, o emprego de vírgula com estas construções é mencionado numa breve observação na Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, p. 404, nota 6):
«O estatuto periférico destas posições é assinalado na escrita através de uma vírgula ou, em certos casos, de reticências; na oralidade, as expressões que ocupam estas posições apresentam-se sempre demarcadas entoacional ou ritmicamente do resto frase.»
Conjugando a descrição desta prática com o exame de vários exemplos da escrita de frases na ordem indireta ou com constituintes topicalizados, é possível inferir um conjunto de recomendações – não se trata de regras nem de normas estritas – sobre o uso da vírgula na situação em causa. Assim:
I- Com o complemento direto deslocado para o começo da frase (topicalizado), a vírgula não é obrigatória, quando há inversão do sujeito:
(1) «O livro deu-lhe ele.»3
II- A vírgula torna-se necessária em situações em que o complemento direto topicalizado é seguido pelo sujeito ou retomado por um pronome:
(2) «O livro, ele deu-lhe...