A confusão entre enveredar e envidar num texto jornalístico ilustra mais um caso ocasionado pelas armadilhas da paronímia, como comenta o consultor Carlos Rocha neste apontamento.
Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.
A confusão entre enveredar e envidar num texto jornalístico ilustra mais um caso ocasionado pelas armadilhas da paronímia, como comenta o consultor Carlos Rocha neste apontamento.
Na frase «o repertório vem depois da escolha do argumento e deve estar relacionado a ele», por que «a ele» está correto, se aprendemos que o pronome de caso reto só é usado na posição de sujeito?
As formas tónicas dos pronomes oblíquos da 3.ª pessoa são iguais à dos pronomes retos correspondentes: ele/ela e eles/elas.
«Pronome reto» é um termo empregado no Brasil para designar «pronomes pessoais que exercem na frase a função de sujeito (eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles, elas)» (Dicionário Houaiss). «Pronome oblíquo» é o termo que se aplica aos «pronomes pessoais que exercem na frase a função de complemento ou adjunto (o, a, lhe, me, te, se, nos, vos, mim, ti, si, comigo, contigo, consigo, conosco, convosco)» (ibidem).
Assim, numa frase como «ele nada bem», ele é sujeito e é pronome reto. Contudo, quando a mesma forma ocorre depois de preposição – «falei com ele» –, considera-se que ele é pronome oblíquo tónico1.
«Pronome reto» e «pronome oblíquo» são termos que constam da Nomenclatura Gramatical Brasileira (NBP) de 1959, que, com alterações, continua ter validade na análise gramatical que se pratica em contexto não universitário, no Brasil.
1 As formas átonas do pronome oblíquo são, na 3.ª pessoa, o/a, os/as e lhe/lhes (cf. Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 1984, p. 279). Na 1.ª e 2.ª pessoas do singular, os pronomes têm geralmente formas diferenciadas (entre parênteses, a class...
Outro dia, lendo o livro Sintaxe Clássica Portuguesa de Cláudio Brandão de Sousa, eis que me deparo com a seguinte construção: «[...] a preposição de serve de exprimir [...].»
O questionamento me surgiu devido ao uso do infinitivo após a preposição de, porque, pelo menos para mim não é comum, foi a primeira vez que vi. Daí procurei em alguns dicionários se havia abonações de exemplos semelhantes, mas só encontrei com substantivos, como por exemplo: «o cabo da vassoura serviu-me de cajado».
Assim, se possível for, por gentileza, gostaria de saber sintaticamente qual seria a função do verbo servir no contexto mencionado. Seria complemento verbal? Oração adverbial?
Obrigado.
É um uso antiquado e hoje excecional, conforme assinala o Dicionário Houaiss: «servir de + infinitivo é de uso antigo: "a curiosidade serve de estimular o progresso humano"».
Atualmente é mais corrente «servir para»: «serve para exprimir».
Introduzida pelas preposições para ou de, a oração que vem depois de servir é, sintaticamente, uma oração substantiva completiva não finita. Do ponto de vista semântico, tem valor final, e, por isso, aproxima-se das orações subordinadas adverbiais finais.
Qual é a diferença lexical em português europeu standard entre macela e camomila?
É correto o emprego de macela como sinónimo de camomila?
Muito obrigado.
Em Portugal, o vocábulo generalizado é camomila, por exemplo, na atividade comercial.
No entanto, o nome macela, sinónimo de camomila, é também conhecido e bastante usado regionalmente.
No sítio eletrónico do Jardim Botânico da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), o vocábulo macela, que tem a variante marcela, tem registo como nome comum da Chamaemelum nobile, planta também vulgarmente denominada, segundo a mesma fonte, por camomila-de-Paris, camomila-romana, macela-dourada, macela-flor e macelão.
Estou traduzindo um texto do francês para o português onde consta a palavra rai em francês antigo, que se utilizava em referência a «rayon de soleil» [raio de sol].
Há alguma palavra em português antigo para se referir a «raio de sol», ou ao «sol»?
Agradeço a ajuda.
Documenta-se a forma raia, num conhecido poema do século XIII, do trovador galego João Airas de Santiago. Transcreve-se a primeira estrofe dessa composição, na leitura disponível no portal Cantigas Medievais Galego-Portuguesas (sublinhado nosso):
«Pelo souto de Crexente
ũa pastor vi andar,
muit'alongada da gente,
alçando voz a cantar,
apertando-se na saia,
quando saía la raia
do sol, nas ribas do Sar.»
A palavra raia, escrita rraya, também figura no conjunto de atestações associado à nota etimológica de raio no Dicionário Houaiss. Mas importa assinalar que raio ocorre igualmente no período medieval, pelo menos, desde o século XIV1: raio, rrayo (séc. XIV); raiios, rayos (séc. XV).
1 Ver também Dicionário Histórico-Cronológico do Português Medieval (versão em linha da Fundação Casa de Rui Barbosa).
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