O apontamento da professora Carla Marques aborda o significado da locução latina quo vadis.
in Página de Português, Antena 2, 11/06/2023
Doutorada em Língua Portuguesa (com uma dissertação na área do estudo do texto argumentativo oral); investigadora do CELGA-ILTEC (grupo de trabalho "Discurso Académico e Práticas Discursivas"); autora de manuais escolares e de gramáticas escolares; formadora de professores; professora do ensino básico e secundário. Consultora permanente do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacada para o efeito pelo Ministério da Educação português.
O apontamento da professora Carla Marques aborda o significado da locução latina quo vadis.
in Página de Português, Antena 2, 11/06/2023
No segmento «[...] Camões revela-se um subtil ourives de composições delicadas e gráceis, discretamente preciosas, fabricadas com o ouro dos cabelos e do sol, com o verde dos campos e dos olhos [...]», a expressão «com o ouro dos cabelos e do sol» desempenha a função sintática de complemento do adjetivo, uma vez que está precedida do particípio passado fabricadas que funciona como adjetivo?
Obrigada pela atenção.
No caso em apreço, fabricadas funciona como adjetivo, uma vez que incide sobre o nome composições, tal como os adjetivos delicadas, gráceis e preciosas, com os quais se coordena.
Na qualidade de adjetivo, fabricadas pede um complemento de adjetivo, o sintagma preposicional «com o ouro dos cabelos e do sol», que completa o seu sentido.
Disponha sempre!
Na frase «Talvez o conhecimento de tantos poemas lindíssimos de amor que escreveu despertasse o interesse de milhões de alunos para a obra maior da nossa literatura», a expressão «a maior obra da nossa literatura» é uma referência a Os Lusíadas.
Estamos perante uma referenciação anafórica por substituição ( sinonímia) ou conceptual?
A retoma anáforica de Os Lusíadas por meio do sintagma «a maior obra da nossa literatura» corresponde a um processo de coesão lexical por substituição, recorrendo à sinonímia entre termos.
Não se trata de um caso de anáfora conceptual, também designada anáfora resumativa, porque esta tem a função de retomar informação anterior por meio da sua condensação numa expressão que a resuma, o que não acontece neste caso.
Disponha sempre!
É possível ( ou obrigatório) fazer a haplologia sintática com o duplo se conjuncional da mesma maneira que se faz com o que?
Quais das seguintes frases são gramaticais?
a) «Eu não sei se compraria um carro se ganhasse à lotaria.»
b) «Eu não sei se se ganhasse a lotaria, compraria um carro.»
c) «Eu não sei se ganhasse a lotaria, compraria um carro.»
Antes de mais, é importante recordar que a haplologia sintática é um fenómeno fonológico que corresponde à omissão na pronúncia de uma sílaba final de uma palavra (ou de um monossílabo) porque esta encontra a seguir a si uma sílaba foneticamente igual ou idêntica. É o que acontece, por exemplo, em (1), onde há tendência a apagar a sílaba de, em faculdade:
(1) «faculda(de) de letras»
O facto de se tratar de um fenómeno fonológico implica, antes de mais, que não terá manifestações na ortografia, ou seja, ainda que uma sílaba possa não ser pronunciada, ela terá de ser escrita para que a frase tenha correção sintático-semântica.
Relativamente à frase apresentada pelo consulente, temos antes de mais considerar qual seria a ordem mais aceitável das diferentes orações.
Nesta frase, identificamos uma construção interrogativa indireta, na qual se encaixa a seguinte frase interrogativa:
(2) «Se ganhasse a lotaria, compraria um carro?»
Ora, se esta frase fosse convertida em interrogativa indireta, o foco da questão incidiria sobre a oração subordinante, pelo que a ordem natural seria a que se apresenta em (3):
(3) «Eu não sei se compraria um carro se ganhasse a lotaria.»
Caso se pretendesse, por alguma razão pragmática, antecipar a oração subordinada condicional, seria aconselhável o uso de vírgulas:
(4) «Eu não sei se, se ganhasse a lotaria, compraria um carro.»
Seria nesta situação que, apesar da pausa, poderia ter lugar a haplologia sintática. No entanto, estamos perante uma construção que é, do ponto de vista sintático, desagradável,...
Agradecia que me indicassem a função sintática do constituinte «no Grande Canal», na frase «A igreja de Longhena , no Grande Canal, perderia a sua presença altiva [...] se os edifícios modestos [...] fossem substituídos por blocos de escritórios de betão armado».
Agradeço mais uma vez a vossa disponibilidade.
O constituinte em questão desempenha a função de modificador do nome apositivo.
O grupo preposicional «no Grande Canal» incide sobre o grupo nominal «a igreja de Longhena» com um valor locativo.
Note-se que não se trata de um complemento do nome uma vez que não constitui um argumento que seja pedido pelo nome igreja. Trata-se, antes, de um constituinte que traz uma informação adicional ao nome, a qual não é pedida por este.
Disponha sempre!
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