Pergunta:
Desejava saber se o advérbio de negação desempenha a função sintática de modificador do grupo verbal.
Por exemplo:
«Eu não o tenho visto ultimamente.»
Análise sintática: «Eu» – sujeito simples; «não o tenho visto ultimamente» - predicado; «o» – complemento direto; «ultimamente» – modificador do grupo verbal (O advérbio não não desempenha nenhuma função sintática.)
ou
«(…) não» – modificador do grupo verbal; «o» – complemento direto; «ultimamente» – modificador do grupo verbal
A minha dúvida advém do seguinte:
1. Os modificadores do grupo verbal dão-nos informações acessórias sobre a realização da ação, isto é, indicam-nos as circunstâncias da realização da ação (como os antigos complementos circunstanciais);
2. Nunca vi na antiga terminologia gramatical um complemento circunstancial de negação;
3. Na verdade, com um não não estamos a modificar a ação/dar informação sobre as circunstâncias da realização da ação – estamos apenas a negar essa ação (frase afirmativa vs. frase negativa). Será que “negar a ação” é “modificá-la”? Se se considerar que estamos a “modificá-la”, não existe aqui uma certa confusão conceptual?
Consultei o Dicionário Terminológico (DT), que nos apresenta o seguinte, a propósito do advérbio de negação: «Advérbio de negação Advérbio cujo significado contribui para reverter o valor de verdade de uma frase afirmativa ou para negar um constituinte. Este advérbio pode ser um modificador do grupo verbal ou de um constituinte do grupo verbal.»
Negação frásica:
(i) O João [não] comprou flores à Ana.
[Análise sintática desta frase: «O João» – sujeito simples; «não comprou flores à Ana» – predicado; «não» – modificador do grupo verbal (???); «flores» – complemento direto; à Ana – complemento indireto]
Negação de constituinte:
(iii) O João [com...
Resposta:
O advérbio não desempenha, na frase apresentada em (1), a função de modificador do grupo verbal:
(1) «Eu não o tenho visto ultimamente.»
Com a entrada em vigor da Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário (TLEBS) e mais tarde do Dicionário Terminológico (DT), a função sintática de complemento circunstancial deixou de constar dos programas do ensino não superior em Portugal. Contudo, não podemos considerar que houve apenas lugar a uma mudança de nome da função sintática. O complemento circunstancial era preenchido por constituintes que dessem informações sobre várias circunstâncias (tempo, espaço, modo …), ou seja, este era identificado sobretudo por critérios semânticos.
No novo quadro orientador dos estudos gramaticais, as funções sintáticas são consideradas não por aquilo que significam, mas pela relação que mantêm com o verbo. Assim, este assume dois tipos de relações sintáticas com os constituintes que integram o predicado verbal:
(i) os constituintes são argumentos do verbo, ou seja, são expressões que completam o sentido do verbo e sem as quais este não forma uma frase completa e correta do ponto de vista sintático. Nesta situação, estão os constituintes com função de complemento direto, complemento indireto e complemento oblíquo;
(ii) os constituintes não são argumentos do verbo, ou seja, não são pedidos por este para completar o seu sentido e, portanto, não são obrigatórios, podendo ser omitidos da frase sem prejudicar a sua ...