Pergunta:
É comum observar-se a expressão "Se ocorre P, então ocorre Q", tanto na linguagem coloquial quanto em contexto técnico.
Neste caso, ocorrem-me duas possíveis classificações, que parecem ser, em princípio, conflitantes.
1) A oração «Se ocorre P» é subordinada adverbial condicional, e a oração «então ocorre Q» é a oração principal, em que «então» desempenha função de advérbio. Observa-se que a omissão ou troca de "então" não resulta em qualquer diferença nas sentenças.
2) A oração «Se ocorre P» não parece assumir o papel de oração coordenada sindética. Contudo, é possível omitir-se a partícula se e manter-se a sentença «Ocorre P, então ocorre Q», de sorte que ocorram duas orações coordenadas, sendo a segunda uma oração sindética conclusiva.
Parece-me razoável concluir que a ocorrência de se na primeira oração implica a classificação obtida em (1), dado que não é possível atribuir a se outro valor morfológico senão o valor de conjunção.
Gostaria, por gentileza, de vossa opinião a respeito do assunto.
Grato.
Resposta:
A expressão «Se P, então Q» é usada na lógica proposicional e expressa uma implicação segundo a qual a primeira proposição (o antecedente) só será falsa se a segunda (o consequente) também o for.
Numa construção condicional típica, existe entre as duas orações uma relação de dependência sintático-semântica, pelo que consideramos que não estamos perante um caso de coordenação. A tradicionalmente designada oração subordinada adverbial condicional corresponde ao antecedente, cujo conteúdo depende semanticamente do consequente, ou seja, da oração subordinante.
A estrutura típica destas construções é composta por duas orações: uma introduzida por se, que introduz a condição, e outra introduzida por então, que marca a consequência. Visto que introduzem duas orações, estabelecendo entre elas uma relação, poderemos considerar que, neste caso, se…então são conjunções correlativas1 (como acontece com ou… ou, por exemplo).
No uso corrente da língua, é natural a omissão de alguns elementos da construção condicional, como se observa na relação entre (1), (2), (3) e (4):
(1) «Se chover, então fico em casa.»
(2) «Se chove, fico em casa.»
(3) «Chove, então fico em casa.»
(4) «Chove, fico em casa.»
Tal é possível porque a construção condicional é reconstruída por inferência.
A frase apresentada em (4), do ponto de vista sintático, é constituída por duas orações que não são introduzidas por conjunções, mantendo uma relação próxima da parataxe2, que, não obstante, do ponto de vista semântico, expressa uma relação de depend...