Pergunta:
Minha consulta se prende às expressões expletivas do tipo «é que», «é onde», «é quando», das quais se diz que servem a dar ênfase a orações ou a termos de oração.
Observo, entretanto, que, a par da ênfase, tais expressões possam carrear um caráter de exclusividade. Se não, vejamos as seguintes frases:
«A prática da leitura gera conhecimento» (um dos fatores que geram).
«É a pratica da leitura que gera conhecimento» (exclusividade – somente a pratica da leitura, talvez por influência de uma estrutura tal como «Pode-se viajar, podem-se visitar museus ou conhecer pessoas, mas é a prática da leitura que gera conhecimento»).
«A sombra das montanhas de Minas conduz à reflexão» (também ela conduz).
«A sombra das montanhas de Minas é que conduz à reflexão» (somente ela conduz).
«Na praia de Copacabana é onde transitam belas mulheres» (é somente lá que transitam).
«Na praia de Copacabana transitam belas mulheres» (é também lá que transitam, aliás frase mais condizente com a realidade...).
Obs.: Quando de usa o advérbio mais ou o pronome indefinido mais, parece não haver alteração de sentido com o uso da expressão expletiva: «É na praia de Copacabana que transitam as mais belas mulheres»; «É a prática da leitura que gera mais conhecimento».
Gostaria de um exame a respeito, o qual desde já agradeço.
Resposta:
A proposta de interpretação dos valores semântico-pragmáticos revelam sensibilidade na análise das construções envolvidas. Pode, no entanto, ser aperfeiçoada com base em análises já existentes em torno da clivagem em português1.
As construções apresentadas pelo consulente são exemplos de processos de clivagem distintos, como
(i) Clivada canónica:
(1) «É a pratica da leitura que gera conhecimento.»
(ii) Clivada é que:
(2) «A sombra das montanhas de Minas é que conduz à reflexão.»
(iii) Pseudoclivada invertida:
(3) «Na praia de Copacabana é onde transitam belas mulheres.»
Em termos semântico-pragmáticos, as construções clivadas é que (frase (2)) são tipicamente usadas para assinalar o contraste. Em (2), a intenção do locutor será a de indicar que é a sombra e não outro elemento que conduz à reflexão.
Por seu turno, as clivadas canónicas (1) e as pseudoclivadas (3) estão ao serviço da focalização de um constituinte da frase, que, em termos informacionais, ganha relevo com a construção. Não obstante, é também possível que estas construções marquem um foco contrastivo. Relativamente às frases (1) e (3), só a análise do contexto permitirá aferir com maior rigor a intenção que se associa à construção clivada.
Disponha sempre!
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