Pergunta:
Confirmei no Dicionário Prático de Regência Nominal de Celso Pedro Luft que se escreve, tal como se ouve habitualmente, «sou licenciada em x PELA Universidade y» e «sou doutora(/doutorada) em x PELA Universidade y».
Pergunto, primeiro, se o mesmo se aplica – como seria de esperar – à designação mestre: é-se mestre em x POR [instituição de ensino y] (o dicionário referido é omisso neste ponto)?
Pergunto, depois, se é possível explicar gramaticalmente esta construção, que não é óbvia para mim.
Na frase «Sou licenciada pela Universidade y», «pela Universidade y» desempenharia, se compreendo bem, a função sintática de complemento agente da passiva – é a instituição de ensino que "licencia", i.e. que confere o grau académico de licenciado ao estudante. Não sei se este raciocínio está correto, e não consigo aplicá-lo aos outros casos: em «sou mestre pela Universidade y» e em «sou doutor pela Universidade y», o mesmo constituinte («pela Universidade y») não pode desempenhar a função sintática referida, parece-me. Conseguiriam explicar esta construção?
Obrigada pelo vosso precioso trabalho.
Resposta:
Tal como acontece com licenciado, também os nomes mestre e doutor podem ser acompanhados da informação que indica a área de especialização e a instituição que atribui o grau. Diremos, deste modo,
(1) «licenciado em linguística pela Universidade de Lisboa»
(2) «mestre em linguística pela Universidade de Lisboa»
(3) «doutor em linguística pela Universidade de Lisboa»
Relativamente às funções presentes nestas construções, teremos, antes de mais, de ter em consideração que o núcleo das estruturas é um nome, pelo que os constituintes que se relacionarem com ele desempenharão as funções associadas ao nome. Neste caso particular, os constituintes «em linguística» e «pela Universidade de Lisboa» desempenham a função de complemento do nome.
Existe uma relação entre o nome (ou adjetivo) licenciado e a forma verbal licenciar, pelo que a construção apresentada em (1) é próxima das que se apresentam em (4) e (5):
(4) «Ele é licenciado em linguística pela Universidade de Lisboa.»
(5) «A Universidade de Lisboa licenciou-o em linguística.»
No caso de (4), estamos perante uma frase passiva e os constituintes «em linguística» e «pela Universidade de Lisboa» desempenham, respetivamente, as funções de complemento oblíquo e de complemento agente da passiva. Já na frase (5), o constituinte «A Universidade de Lisboa» é sujeito e «em linguística» complemento oblíquo.
Quando o verbo licenciar se converte no nome licença, que é deverbal, este último herda a estrutura argum...