Pergunta:
Gostaria de saber se na frase «Só que agora quase não conversavam, era como se uma invisível cortina os separasse», retirada da obra O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, também podemos aceitar que existe uma metáfora?
Efetivamente, há uma comparação e penso que será só este recurso. Do meu ponto de vista, a expressão «era como» estabelece a comparação, que dá ênfase ao silêncio e ao afastamento que havia entre os dois seres («invisível cortina»).
Muito obrigada pela atenção.
Resposta:
Na frase em apreço, está presente uma comparação.
A metáfora e a comparação são dois recursos expressivos que assentam num processo de analogia entre duas realidades.
Os dois recursos distinguem-se, no entanto, pelo facto de a comparação construir uma analogia com base na aproximação sintática de dois termos, que, não raro, se relacionam por meio da conjunção como (ou similar) enquanto a metáfora constitui um processo de «substituição por denominação, na qual um termo designa outro termo figurado similar»1.
Assim sendo, na frase em análise, observamos que a situação de «não conversar» é associada sintaticamente à realidade «cortina invisível a separar», sendo esta relação explicitada pela conjunção como. Estamos, deste modo, perante um processo de construção de comparação, que aproxima uma realidade, a inexistência de diálogo, a uma imagem, a de uma cortina invisível.
Disponha sempre!
1. Paul Ricoeur, como citado em E-dicionário de Termos Literários, coord. de Carlos Ceia.