Carla Marques - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carla Marques
Carla Marques
107K

Doutorada em Língua Portuguesa (com uma dissertação na área do  estudo do texto argumentativo oral); investigadora do CELGA-ILTEC (grupo de trabalho "Discurso Académico e Práticas Discursivas"); autora de manuais escolares e de gramáticas escolares; formadora de professores; professora do ensino básico e secundário. Consultora permanente do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacada para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pela autora
História e dia
Divisão silábica

Quantas silabas têm as palavras história e dia? A professora Carla Marques dá resposta ao Desafio Semanal, na rubrica divulgada no programa Páginas de Português, da Antena 2 (15/12/2024). 

Pergunta:

Na passagem textual «louvai a Deus, enfim, servindo e sustentando ao homem, que é o fim para que vos criou», qual a função sintática desempenhada por «que é o fim para que vos criou»?

Obrigada!

Resposta:

A oração «que é o fim para que vos criou», retirada do Sermão de Santo António, de Padre António Vieira, não desempenha uma função sintática na frase em que se insere.

A oração em causa é uma oração coordenada explicativa, que se coordena com a oração «louvai a Deus». Neste caso, que é uma conjunção coordenativa explicativa, que tem a função de introduzir a oração que tem a função de apresentar uma justificação para o ato ilocutório diretivo expresso na primeira oração.

Disponha sempre!

Pergunta:

Quando queremos referir uma diferença num fuso horário, qual é a forma mais correta de o escrever?

(1) «Aqui, são seis horas menos que no Porto.»

ou:

(2) «Aqui são menos seis horas do que no Porto.»

(3) «Aqui são menos seis horas que no Porto.»

A minha dúvida eterna: que/ do que, existência ou não da vírgula, correta posição do advérbio menos.

Obrigada!

Resposta:

Nas construções em apreço, é possível usar tanto a locução «do que» como a conjunção que, sendo as frases que daí resultam equivalentes.

As construções apresentadas incluem uma estrutura comparativa, na qual se dá a elipse do verbo:

(1) «Aqui, são menos seis horas do que no Porto (são).»

Na frase (1), compara-se o horário de um local, identificado como «aqui», com o da cidade do Porto. Ora, numa construção comparativa, é possível introduzir o segundo termo da comparação por meio da locução «do que», como em (1), ou por meio da conjunção que, como acontece na frase (2):

(2) «Aqui, são menos seis horas que no Porto (são).»

Nas frases (1) e (2), a palavra menos incide sobre o núcleo nominal horas, pelo que não constitui um advérbio (que acompanharia um adjetivo), mas sim um quantificador. Menos coloca-se antes do elemento sobre o qual incide. Alguns falantes, em situações informais, aceitarão a colocação de menos depois de horas, mas essa não será a opção mais comum.

No que diz respeito à pontuação, no interior das estruturas comparativas, não se usa vírgula a separar os dois termos da comparação.

Disponha sempre!

Pergunta:

Seria possível que me esclarecessem acerca da função sintática do constituinte «satírica» na frase «opostamente às Cantigas de Amigo e de Amor, as de Escárnio e de Maldizer envolvem a temática satírica»?

Obrigado.

Resposta:

No grupo nominal «a temática satírica», o adjetivo satírica desempenha a função de modificador do nome restritivo.

O adjetivo satírica incide sobre o nome temática e restringe o seu sentido, pelo que se trata de um modificador restritivo.

Não sendo pedido pela estrutura interna do nome temática, o adjetivo pode ser retirado da frase sem comprometer a significação do nome, que passará a ter uma significação mais abrangente.

Disponha sempre!

Pergunta:

Tem havido algumas dúvidas quanto à função sintática desempenhada pelo antigo complemento circunstancial de companhia, mais exatamente os pronomes pessoais como comigo, consigo etc.

Já os vi serem classificados como modificadores do grupo verbal, como complemento oblíquo, mas persistem dúvidas que eu gostaria, se possível, que esclarecessem.

Grata

Resposta:

A função sintática desempenhada por estes pronomes ou por quaisquer outros constituintes ficará sempre dependente da natureza do verbo com o qual se combinarem.

É ao verbo que cabe a seleção dos seus argumentos internos, que completam o seu sentido. Logo, será este que determina a natureza dos seus complementos.

Deste modo, um verbo como viver seleciona um complemento oblíquo, que pode, do ponto de vista semântico, expressar o valor de companhia, como se observa em (1) e (2):

(1) «Ela vive com o João.»

(2) «Ela vive comigo.»

Os constituintes «com o João» e «comigo» desempenham a função de complemento oblíquo.

Um verbo como ir seleciona um complemento oblíquo com valor locativo (ou equivalente), como está exemplificado em (3) e (4):

(3) «Ele foi a Paris com o João.»

(4) «Ele foi a Paris comigo.»

Nestas frases, o constituinte «a Paris» desempenha a função de complemento oblíquo, ao passo que os constituintes «com o João» e «consigo» têm a função de modificador do grupo verbal.

Disponha sempre!