Partindo da frase incorreta «Ele lia todos os livros quanto podia», a professora Carla Marques retoma o uso do relativo quanto, no apontamento divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2.
Doutorada em Língua Portuguesa (com uma dissertação na área do estudo do texto argumentativo oral); investigadora do CELGA-ILTEC (grupo de trabalho "Discurso Académico e Práticas Discursivas"); autora de manuais escolares e de gramáticas escolares; formadora de professores; professora do ensino básico e secundário. Consultora permanente do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacada para o efeito pelo Ministério da Educação português.
Partindo da frase incorreta «Ele lia todos os livros quanto podia», a professora Carla Marques retoma o uso do relativo quanto, no apontamento divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2.
Qual a função sintática desempenhada por dele na frase : «soube muito bem meter-se na pele dele.»?
O constituinte dele desempenha na frase em questão a função sintática de complemento do nome.
O nome pele, no contexto em que está a ser usado, corresponde a uma parte do corpo de alguém. Ora, um dos contextos que desencadeiam o aparecimento de complementos do nome é aquele em que estes «denotam entidades que mantêm uma relação de partes a um todo com outra entidade de que são componentes (como, por exemplo, mantêm as partes de um edifício com esse edifício […])»1.
Por esta razão, o constituinte «do João», na frase (1), desempenha a função de complemento do nome:
(1) «A pele do João é muito sensível.»
Este constituinte pode ser substituído por dele, que corresponde à contração da preposição de com o pronome pessoal ele. Trata-se de uma construção que tem valor possessivo (equivalente ao do determinante possessivo sua). Na frase (2), o constituinte dele tem igualmente a função de complemento do nome:
(2) «A pele dele é muito sensível.»
Na frase apresentada pelo consulente, estamos perante uma situação idêntica à que se apresenta atrás, pelo que dele tem a função de complemento de nome.
Disponha sempre!
1. Raposo et al., Gramática do português. Fundação Calouste Gulbenkian, cf. p. 743
Num artigo de opinião da edição de 7 Jan 2023 do jornal Público, a articulista refere-se ao termo vernáculo atribuindo-lhe o sentido de linguagem imprópria, mais propriamente, palavrões. E é verdade que já ouvi e li em comentadores desportivos o uso do termo com o mesmo sentido.
Usam-no com sentido errado, considero eu fundamentado na Infopédia – Dicionário online da Porto Editora, onde é referido que o termo vernáculo não tem nada a ver com o sentido negativo que lhe é atribuído.
Como adjetivo, significa 1 – «próprio do país ou da região a que pertence; nacional, pátrio»; 2 – «(linguagem) que conserva a pureza original; sem estrangeirismos; genuíno, puro». Já como nome masculino, significa «língua própria de um país ou de uma região; idioma nacional».
Pergunto, então, se o uso do termo vernáculo com o significado de palavrões é correto.
Tem o consulente toda a razão no que afirma.
O termo vernáculo encontra-se dicionarizado com o significado de «próprio de um país, nação, região»; «diz-se da linguagem correta, sem estrangeirismos na pronúncia, vocabulário ou construções sintáticas»; «língua própria de um país ou de uma região». (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa). Outros dicionários consultados confirmam estes mesmos valores1.
Não obstante, é possível identificar usos, como o que se apresenta em (1), nos quais a palavra é usada com o sentido de «linguagem grosseira; palavrão; calão»:
(1) «Tudo indica que está a ser alvo de um ajuste de contas. Se tivesse regressado em glória da África do Sul estaria alguém a pedir-lhe contas pelo vernáculo usado quando recebeu os médicos da Autoridade Antidopagem?» (Expresso, 11.08.2010)
Este valor não se encontra dicionarizado e pode, eventualmente, corresponder a um uso figurado com um sentido contrário à ideia de «bom vernáculo».
Não obstante, para adotar um registo mais conforme à norma, vernáculo não deverá ser usado com o valor de palavrão.
Disponha sempre!
1. Consultou-se o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea e o Dicionário Priberam.
Como saber quando um verbo é ou não intransitivo de fato?
Na frase: «A professora agiu favoravelmente aos alunos», o verbo agir é verbo transitivo direto ou verbo intransitivo?
Mesmo existindo "tabelas" na Internet de verbos intransitivos, existem casos em que esses verbos têm complementos.
Enfim, na frase acima, como posso classificar o verbo?
Obrigada.
O critério para distinguir verbos transitivos de verbos intransitivos está dependente do facto de estes selecionarem ou não argumentos/ complementos. Estes argumentos/ complementos poderão corresponder a constituintes que desempenham a função de complemento direto, indireto ou oblíquo (complemento relativo). Nas fases abaixo, sublinham-se estes complementos. A sua presença na frase indica que o verbo é transitivo:
(1) «Eu leio este livro.» (complemento direto)
(2) «O livro pertence à Rita.» (complemento indireto)
(3) «Eu gosto da sua escrita.» (complemento oblíquo ou complemento relativo)
Os dicionários e as gramáticas apresentam, com efeito, listas ou classificações que visam distinguir os vários tipos de verbos. No entanto, é importante que se saiba que estas classificações não são definitivas porque, em determinados contextos, os verbos poderão alterar o seu comportamento sintático. Assim, por exemplo, o verbo ver, que normalmente é usado como transitivo, como em (4), em certas construções pode ser usado intransitivamente, como em (5):
(4) «Ele viu a luz do candeeiro.»
(5) «Estes organismos não veem.»
Na frase apresentada pela consulente, o verbo agir é usado intransitivamente, desempenhando o constituinte «favoravelmente aos alunos» a função de modificador (adjunto adverbial).
Note-se, porém, que o verbo agir pode ser usado transitivamente e...
A diferença entre eminente e iminente é esclarecida pela professora Carla Marques, no seu apontamento divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2.
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