Bárbara Nadais Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Bárbara Nadais Gama
Bárbara Nadais Gama
16K

Licenciada em Ensino de Português Língua Estrangeira, mestre em Português Língua Segunda/Língua Estrangeira pela Universidade do Porto e doutoranda em Didática de Línguas. Foi professora de Português no curso de Direito da Universidade Nacional Timor Lorosae- UNTL, no ano letivo de 2011-2012.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Qual é a grafia correta da palavra loiro/louro seguida do adjetivo claro ou escuro. Devo usar hífen, ou não? Em qualquer dos casos, qual é o plural correto? Não consigo encontrar nenhuma ocorrência em fontes confiáveis de "loiro-escuro" com hífen, nem em dicionários, nem em vocabulários ortográficos; essa, no entanto, é a forma que me parece correta. Em um texto que estou corrigindo, o autor utilizou «cabelos loiros escuros», o que me causou estranhamento. Mas, como não consigo encontrar nenhuma referência que diga o contrário, gostaria de contar com sua ajuda.

Resposta:

À semelhança do que a consulente observa, também não consegui encontrar na bibliografia de que disponho ocorrência do adjetivo composto loiro-escuro (ou louro-escuro) com uso do hífen.

Contudo, em relação à cor de cabelos, temos castanho e os compostos castanho-escuro e castanho-claro, ambos recorrendo ao uso do hífen, tal como regista o Dicionário Priberam, o que legitima a hifenização de louro-escuro e louro-claro

Já no que diz respeito ao plural de flexão de palavras compostas, Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo, 1.ª ed., 1984, escrevem: «Nos adjetivos compostos, apenas o último elemento recebe a forma plural» (p. 253). Assim, em conformidade com os autores, num exemplo como «calças azul-escuras», a marca de flexão seria apenas visível no último elemento do composto; pelo mesmo critério, o plural de «cabelo loiro-escuro» será «cabelos loiro-escuros».

Porém, Maria Helena de Moura Neves, no seu Guia de Usos do Português (São Paulo, Editora Unesp, 2003), além de confirmar o preceito enunciado por Cunha e Cintra (op. cit.), observa que «[t]ambém é usual, porém, a flexão dos dois adjetivos. «E em maio no seu corpo jitiranas trepadeiras, enroscando-se, com flores AZUIS-ARROXEADAS [...].» A mesma autora refere ainda os casos de azul-marinho e de azul-celeste, que são invariáveis na tradição gramatical e lexicográfica brasileira (cf. Aurélio XXI Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999).

 Em suma, sem prejuízo da regra definida por Cunha...

Pergunta:

O que significa gibão?

Resposta:

O substantivo masculino gibão designa uma veste de homem usada durante os séc. XIII a XVII. O Dicionário Eletrônico Houaiss distingue três significados do termo, dois para a norma geral e mais específico do português brasileiro.

  1. 1. «antiga peça do vestuário masculino, usado por baixo do paletó, que envolve o corpo do pescoço à cintura.»
  2. 2. «espécie de casaco curto, semelhante ao colete, que se veste sobre a camisa.»
  3. 3. (brasileirismo) «casaco de couro, ger. largo, usado por vaqueiros; véstia.»

Verifica-se ainda a existência do homónimo gibão, palavra com pronúncia e grafia idênticas, mas que apresenta um significado diferente:

«s. m. ZOOLOGIA mamífero primata, antropomorfo, arborícola, da família dos Hilobatídeos, com membros anteriores muito longos, representado por algumas espécies que vivem no Oriente» (in Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora).

Pergunta:

Gostaria de saber qual é a forma correta: «fazer um empréstimo», ou «pedir um empréstimo»?

Obrigada.

Resposta:

Se o objetivo da consulente for solicitar que um banco, por exemplo, lhe conceda um determinado empréstimo, a expressão que parece ser mais apropriada e que ocorre em português é a colocação «pedir um empréstimo». Se, por outro lado, a consulente se estiver a referir ao que esse mesmo banco lhe «concede em quantia de dinheiro com a pressuposição de que será devolvida ao emprestador com ou sem acréscimo de juros» (empréstimo, Dicionário Eletrónico Houaiss), nesse caso parecer-me-á mais adequado utilizar a expressão «fazer um empréstimo», isto é, «o banco fez-lhe um empréstimo».

No entanto, a sua dúvida torna-se pertinente no sentido em que a primeira expressão, «fazer um empréstimo», é a que, de facto, ouvimos ocorrer coloquialmente com grande  frequência para as duas situações anteriormente referidas. E, ao ser assim, parece-me que, no caso de utilizar apenas a expressão «fazer um empréstimo», esta será facilmente compreendida em contexto informal. Num contexto mais formal poderá ainda utilizar a expressão «contrair um empréstimo» com o mesmo sentido de «fazer um empréstimo».

Pergunta:

O que significa a palavra Gestapo?

Resposta:

Trata-se de um acrónimo da expressão alemã Geheime Staatspolizei, ou seja, «Polícia Secreta do Estado». Esta organização existiu na Alemanha, durante o regime de A. Hitler (1933-1945).

Pergunta:

Na formação de palavras, mais especificamente na sufixação, gostava de saber por que motivo em algumas palavras se acrescentam letras entre a palavra base e o sufixo, como por exemplo em casarão.

(casa + r + ão)

E por que motivo, em muitas situações, cai a vogal da palavra base para se juntar o sufixo, como em pedra - pedreira (pedr + eira, em que cai o a).

Obrigada.

Resposta:

No exemplo dado pela consulente, estamos perante o emprego do sufixo aumentativo –ão.1 No caso particular de casarão, trata-se de uma variante sufixal, tal como podemos verificar se consultarmos o Dicionário Houaiss a respeito do sufixo -ão: «suf. encorpados em -ão, dimensivos ou afetivos, de fraca ocorrência: -chão (bonachão), -gão (espadagão, latagão, portagão, selagão), -strão (falastrão), -tão (borratão, mocetão, pobretão), -jão (varejão <vara), -rão (brancarão, casarão, laçarão, lambarão, laparão).»

Por sua vez, o sufixo nominal –eira na palavra pedreira, apresentada pela consulente, surge «quando se aglutina a um radical para dar origem a um substantivo ou a um adjetivo: pont-eiro, pont-inha, pont-udo (cf. Cunha e Cintra, p. 90). Neste caso em particular, o radical pedr- junta-se ao sufixo nominal –eira, formando um substantivo feminino de outro substantivo (pedra)2 com o sentido de «lugar ou rocha de onde se extrai pedra» (in Dicionário Eletrônico Houaiss).

1 A este respeito leia-se Cunha e Cintra (3.ª edição, p. 91):

«1. –ão. É por excelência, o formador de aumentativos em português. Pode juntar-se a radicais de substantivos (papel-ão), de adjetivos (solteir-ão) e de verbos (chor-ão), quer directamente, como nos exemplos citados, quer por intermédio ...