Bárbara Nadais Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Bárbara Nadais Gama
Bárbara Nadais Gama
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Licenciada em Ensino de Português Língua Estrangeira, mestre em Português Língua Segunda/Língua Estrangeira pela Universidade do Porto e doutoranda em Didática de Línguas. Foi professora de Português no curso de Direito da Universidade Nacional Timor Lorosae- UNTL, no ano letivo de 2011-2012.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Quando se usa a expressão «pelo que» e «sendo que»?

Por exemplo: «Envio o relatório X pelo que...», ou «...sendo que...»?

Obrigada.

Resposta:

A expressão «pelo que»  tem valor conclusivo numa frase como a que se segue:

1. «O comboio está atrasado, pelo que [= «motivo pelo qual»] ainda podes ir à tabacaria se quiseres comprar uma revista.»

Em 1, a oração introduzida pela locução coordenativa «pelo que» pode ser classificada como coordenada conclusiva. A referida locução é, portanto, equivalente a logo, assim, portanto, «por isso», «por consequência», «por conseguinte», consequentemente (ex.: «Envio o relatório x, portanto, aceitam-se considerações de Vossas Excelências»).

Quanto a «sendo que», trata-se de uma expressão que, no Dicionário de Questões Vernáculas, Napoleão Mendes de Almeida considera uma locução conjuntiva causal, equivalente a «uma vez que» ou «visto que». Ex.: «Sendo que você não está bom, desisto da viagem.» Ocorre, no entanto, com frequência com outros valores e noutros contextos, apesar da reprovação da gramática normativa1.

 Seja como for, a utilização de qualquer uma destas expressões na frase apresentada ficará ao critério da preferência do consulente.

No Guia de Uso do Português (São Paulo, Editora Unesp, 2003), Maria Helena de Moura Neves observa o seguinte:

 «É geralmente desnecessário ou complicador da construção, e, por isso, é tradiconalmente não recomendado o uso da expressão "sendo que" na ligação de orações ou de parte de orações.

Pergunta:

Gostaria de saber se, quando falamos em prospectiva, o verbo que lhe está inerente é prospectivar, ou se se deve usar prospectar, que deriva de prospeção, que não é o mesmo que prospectiva.

O termo, com o novo acordo, leva, ou não, o c?

Resposta:

Nos dicionários consultados (Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, Dicionário Eletrônico Houaiss e Dicionário Priberam) não se encontram registos do verbo prospetivar.

No que diz respeito ao verbo prospetar (do latim prospectare, «olhar para a frente ou para o futuro»), que significa «fazer pesquisas», este regista-se em dicionário, mas com a desvantagem de se encontrar em correspondência com prospeção (que deriva do latim prospectione, «cuidado, solicitude»). Deste modo, e uma vez que prospetar não abrange o significado de prospetiva, ficamos diante de duas possibilidades:

a) ou o consulente usa o verbo prospetar num sentido mais abrangente, o de «fazer prospetiva» (a par de «fazer prospeção»), alargando a polissemia do verbo mas tornando-o, talvez, pouco adequado para uso terminológico em contexto científico;

b) ou utiliza o verbo "prospetivar" (apesar de não se encontrar atestado) e esclarece que o usa com o fim específico de veicular a noção de «fazer prospetiva».

Relativamente à segunda questão: com o novo acordo ortográfico em cada comunidade linguística, «as consoantes não articuladas das sequências ct, cc, , pt, pc, , etc.» suprimem-se quando são invariavelmente mudas, que é o caso dos termos que aqui utilizamos (prospetiva, prospeção, "prospetivar", ou em exemplos como aspeto, ótimo, ação).

Pergunta:

O que significa imanência?

Resposta:

Trata-se de um termo muito utilizado na área da filosofia em contraste com a ideia de transcendência. O Dicionário Eletrônico Houaiss (Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss/Objetiva, 2001) regista o substantivo feminino imanência como a «qualidade daquilo que é imanente» e, no domínio da filosofia, como «qualidade do que pertence à substância ou essência de algo, à sua interioridade, em contraste com a existência, de uma dimensão externa» e «atributo do que é inerente ao mundo concreto e material, à natureza». A sua origem vem do latim, immanentia, «parar em, ficar: deter-se» (Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora).

Pergunta:

Gostava de esclarecer se biofísica é uma palavra formada por composição morfológica ou morfossintática. Pois com a explicação do meu livro não consegui perceber bem...

Obrigada antecipadamente.

Resposta:

Trata-se de um composto morfológico.

No caso particular de biofísica estamos perante um composto morfológico, ou seja, uma palavra que resulta da associação do radical bio- com a palavra física.

No Dicionário Terminológico entende-se por composição morfológica «o processo de composição que associa um radical a outro(s) radica(is) ou a uma ou mais palavras» (exemplos: pedagogia, suicida), assinalando-se que, «[d]e um modo geral, entre os radicais e o radical e a palavra associada ocorre uma vogal de ligação». Por sua vez, o mesmo dicionário define composição morfossintática como o «processo de composição que associa duas ou mais palavras» (exemplos: trabalhador-estudante, palavra-chave, guarda-fato). A variação em género e número destes compostos vai depender da natureza sintática dos seus elementos constituintes.