Bárbara Nadais Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Bárbara Nadais Gama
Bárbara Nadais Gama
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Licenciada em Ensino de Português Língua Estrangeira, mestre em Português Língua Segunda/Língua Estrangeira pela Universidade do Porto e doutoranda em Didática de Línguas. Foi professora de Português no curso de Direito da Universidade Nacional Timor Lorosae- UNTL, no ano letivo de 2011-2012.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Os falantes do Brasil muitas das vezes não usam o artigo definido, por exemplo, «Joana lê o livro» e não «a Joana lê o livro»; ou ainda, «meu livro» e não «o meu livro». Quando é que o artigo pode ser omitido? E em Portugal se omitirmos o artigo também é correto?

Obrigada.

Resposta:

A respeito dos exemplos da consulente, de acordo com Celso Cunha e Lindley Cintra (manteve-se a ortografia original), «os nomes próprios de pessoas (de baptismo e de família) não levam artigo, principalmente quando se aplicam a personagens muito conhecidos. Assim: Camões, Cícero, Dante, Napoleão».

Os mesmos autores referem que «na linguagem popular e no trato familiar é muito frequente no Brasil e está praticamente generalizada na linguagem corrente em Portugal a anteposição do artigo definido a nomes de baptismo de pessoas […]».

Verifique-se os seguintes exemplos:

«Olavo saiu agora…»

«O Olavo saiu agora.»

No primeiro exemplo, «(em Portugal só possível na linguagem escrita), a pessoa mencionada vem envolta de certa distinção; sentimo-la mais distante. Na segunda, apontamos a pessoa como conhecida dos presentes, como um elemento familiar, caseiro» (cf. Cunha e Cintra, 3.ª edição, p. 227).

O caso do uso do artigo é bastante delicado para falantes da norma europeia da língua portuguesa e, talvez ainda mais, no âmbito da norma brasileira, uma vez que aqui há um número maior de situações em que o artigo pode, ou costuma, ser omitido (sobre  variação sociolinguística e dialetológica do uso do artigo definido antes de nomes próprios e possessivos no Brasil, consultar, por exemplo, o estudo de Heitor da Silva Campos Júnior, "A variação do artigo definido no português", Anais do Seta, número 4, 2010, págs. 465-475).

Pergunta:

Quando um falante do Brasil diz «moro em S. Paulo faz muitos anos», está correto? Ou deveria dizer «moro em S. Paulo há muitos anos»?

Obrigada.

Resposta:

As duas expressões referidas pelo consulente estão corretas. Para isso vejamos o que Maria Helena de Moura Neves, no Guia de Uso do Português (São Paulo, Editora Unesp, 2003), estabelece sobre as regras em relação a fazer quando indica tempo: «Fazer é verbo impessoal, isto é, não tem sujeito, e, portanto, fica no singular, na terceira pessoa, quando indica:

— tempo decorrido, ou seja, tempo passado a partir de um determinado momento (sinônimo de haver). — FAZ trinta anos que deixei minha pequena cidade do interior. [...]»

Pergunta:

Há verbos cujo particípio passado regular caiu em desuso ao longo dos tempos, como é o caso de pagado, do verbo pagar, usando-se agora a forma regular – pago. Existem mais verbos cujo particípio passado regular foi substituído pelo irregular?

Resposta:

Efetivamente, considera-se que o particípio regular do verbo pagar (pagado) já caiu em desuso. A par desse verbo, também ganhar e gastar veem os respetivos particípios passados regulares, ganhado e gastado, serem geralmente substituídos pelas formas irregulares (ou curtas) ganho e gasto. Sobre estes verbos, Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo (3.ª ed., p. 440), observam o seguinte, mais como apontamento descritivo do que como norma (manteve-se a ortografia do original):

«[...] N[o] grupo [dos verbos de particípio irregular] devemos incluir três verbos da 1.ª conjugação – ganhar, gastar e pagar – de que outrora se usavam normalmente os dois particípios. Na linguagem actual preferem-se, tanto nas construções com o auxiliar ser como naquelas em que entra o auxiliar ter, as formas irregulares ganho, gasto e pago, sendo que a última substituiu completamente o antigo pagado1

1 Existe um grande número de verbos com duas formas de particípio passado, tradicionalmente conhecidos por verbos abundantes, que são verbos que «possuem duas ou mais formas equivalentes (…)» (Cunha e Cintra, 3.ª edição, p. 441), e essa abundância «ocorre apenas no particípio, o qual, em certos verbos, se apresenta com uma forma reduzida ou anormal ao lado da forma regular» (idem). De um modo geral, «a forma regular emprega-se na constituição dos tempos compostos da voz ativa, isto é, acompanhada dos auxiliares ter ou haver; a irregular usa-se, de preferênc...

Pergunta:

Se um crime não está sujeito à concessão de anistia, pode-se dizer que é um «crime inanistiável»?

Resposta:

O Dicionário Eletrônico Houaiss (Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss/Objetiva, 2001) regista a palavra inanistiável como se tratando de um adjetivo de dois géneros, que se refere ao «que não é anistiável». O mesmo dicionário entende por anistia (forma brasileira) ou amnistia (forma usada em Portugal e noutros países em que o português tem estatuto oficial) «o esquecimento, perdão em sentido amplo; ato do poder público que declara impuníveis delitos praticados até determinada data por motivos políticos ou penais, ao mesmo tempo que anula condenações e suspende diligências persecutórias» e, por anistiável/amnistiável, o «que pode ou é digno de ser anistiado; amnistiável».

Deste modo, o consulente, ao utilizar a expressão inanistiável (ou inamnistiável) para caracterizar um «crime», pretenderá dizer que esse crime não é digno de ser amnistiável, isto é, merecedor de perdão, perdoável, e, nesse sentido, o significado parece fazer jus à expressão utilizada.

Pergunta:

O que quer dizer OVNIS?

Resposta:

A palavra em questão escreve-se óvni em português. Em minúscula, dado o seu uso como substativo comum e com acento agudo no o. Tem origem no acrónimo OVNI da expressão «objeto voador não identificado», que é o mesmo que «disco voador» (cf. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa).

Note-se que no Vocabulário Ortográfico Atualizado da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa, no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, e no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora, disponível em linha na Infopédia, a palavra referida pelo consulente é grave, tendo, obrigatoriamente, acento agudo na penúltima sílaba por terminar em i: óvni