Aura Figueira - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Aura Figueira
Aura Figueira
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Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses e Franceses, pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, com uma pós-graduação em Ciências da Documentação e da Informação, variante de Biblioteconomia. É professora de português dos ensinos básico e secundário. 

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

«Embora não trate especificamente da violência contra as mulheres, o texto remete para casos de estupro e agressão física, dos quais elas são as maiores vítimas.»

Na frase acima, o vocábulo trate é um verbo transitivo indireto. Porquê?

Resposta:

    Na frase apresentada, o verbo tratar é transitivo indireto, visto que seleciona um complemento introduzido por preposição («da violência contra as mulheres»), um complemento oblíquo. 

   No entanto, o verbo tratar é ainda, noutros contextos, de acordo com o Dicionário Gramatical de Verbos Portugueses, de João Malaca Casteleiro, transitivo direto:

Ex.: «A sua colega trata os processos mais complicados

  • os processos mais complicados - complemento direto

e transitivo direto e indireto:

Ex.: «Os filhos tratam a mãe na segunda pessoa

  • a mãe - complemento direto
  • na segunda pessoa - complemento oblíquo

Pergunta:

Aprendi na aula que o pois é conclusivo somente quando estiver após o verbo da segunda oração. Fazendo exercícios, entretanto, percebi que bastava o pois após o primeiro verbo para que fosse classificado como conclusivo. Qual é a regra exata?

Exemplos:

1) «Ela estudava muito, pois desejava ser aprovada.»

2) «Ela estudava muito, desejava, pois, ser aprovada.»

Desde já, muito obrigada!

Resposta:

    A colocação do pois após o primeiro verbo impede que aquele seja classificado como conclusivo. Há regras específicas quanto à sua utilização para o distinguir do pois explicativo ou do pois causal.

    Assim, segundo Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo, «Pois, quando conjunção conclusiva, vem sempre posposto a um termo da oração a que pertence: 

     Para ali estavam, pois, horas sem conto, esperando, inutilmente, ludibriarem-se a si próprios.(Fernando Namora, Cidade Solitária)»

   Por outro lado, quando no meio da frase, este vocábulo deve ser sempre colocado entre vírgulas; se for para o final da frase, a vírgula deve precedê-lo.

   A frase 2) contém, portanto, uma oração coordenada conclusiva: «(...) desejava, pois, ser aprovada.», enquanto a frase 1) contém uma oração coordenada explicativa ("[...] pois desejava ser aprovada."), introduzida pelo conector explicativ...

Pergunta:

A utilização do verbo acordar no sentido de «chegar a acordo» não carece de preposição? Ou seja, as frases «Os contratantes acordam colaborar na venda» e «As partes acordam que o ato é inválido» estão corretas? 

Resposta:

     Segundo João Malaca Casteleiro, no seu Dicionário Gramatical de Verbos Portugueses, o verbo acordar, com o significado de «concordar», é transitivo direto e indireto e intransitivo:

  1. «A concertação social acordou as propostas a implementar.» (transitivo direto)
  2. «Todos os condóminos acordaram na escolha da proposta.» (transitivo indireto)
  3. «O pai e a mãe acordaram sobre o castigo para os filhos desobedientes.» (transitivo indireto)
  4. «Depois de acesa discussão, acabaram por acordar.» (intransitivo)

    Como se pode constatar, as frases apresentadas «Os contratantes acordam colaborar na venda» e «As partes acordam que o ato é inválido» estão corretas, sendo o verbo aqui utilizado como transitivo direto, isto...

Pergunta:

O verbo continuar é transitivo direto ou indireto? Ou depende de uma escolha própria de quem fala? «Ele deve continuar essa tarefa.» ou «Ele deve continuar com essa tarefa.» ou ainda «Ele deve continuar a fazer essa tarefa.»

P.S. – Existe alguma obra impressa sobre regência verbal e nominal que cubra grande parte das palavras do Português?

Obrigado.

Resposta:

O verbo continuar é transitivo direto e indireto, intransitivocopulativo e auxiliar, segundo Malaca Casteleiro, no seu Dicionário Gramatical de Verbos Portugueses, que apresenta os seguintes exemplos:

  1. «O filho não quer continuar o negócio do pai.» (transitivo direto) 
  2. «Espero que o aluno continue com o estudo.» (transitivo indireto)
  3. «A chuva vai continuar.» (intransitivo) 
  4. «Apesar da idade, ele continua um homem elegante.» (copulativo)
  5. «O desemprego continua a aumentar na região.» (auxiliar)

 

Quando os verbos são transitivos diretos e indiretos, colocar a preposição será sempre uma escolha de quem escreve, de acordo c...

Pergunta:

Quantas orações há na seguinte frase: «Isso está certo ou não?» Uma ou duas?

Resposta:

    Considera-se que uma frase contém mais de uma oração quando há nela mais de um verbo ou expressão verbal, ainda que apenas subentendido:

1.ª oração – Isso está certo

2.ª oração — ou não (está certo)?

    A segunda é uma oração elíptica¹, porque foi omitida uma expressão que o contexto linguístico permite retomar e, visto que é introduzida pela conjunção «ou», classifica-se como coordenada disjuntiva.

    Há, portanto, duas orações coordenadas na frase apresentada.

 

¹eliptica, em Portugal + PALOP e Timor-Leste, enquanto no Brasil se registam as duas formas, com p e sem peliptica e elítica