Pergunta:
Sendo brasileiro, vivendo em Portugal, tenho interesse em saber se há alguma regra culta por trás do uso da expressão «eu gostava de...» ao invés da forma «eu gostaria que...» em uso no Brasil.
As duas formas são correctas? No Brasil, a segunda forma é considerada errônea.
Obrigado.
P. S.: Perdão pelo uso do gerúndio na pergunta, mas acredito que seja gramaticalmente correcto, apesar do seu não uso em Portugal.
Resposta:
Antes de mais, o consulente não precisa de se culpabilizar pelo uso do gerúndio na questão, porque, embora não seja frequente em português europeu, é correcto e é uma idiossincrasia do português-padrão brasileiro.
Em relação à questão propriamente dita, o verbo gostar rege a preposição de («gosto de cinema», «gosto de ler», «não gosto de chuva», «gostava de ir aos Himalais», «gostava de fazer um inter-rail», etc).
Todavia, quando se utiliza o verbo gostar para elaborar um pedido, em português europeu, há uma tendência crescente para a perda da preposição (de). Isto acontece, em grande parte, porque há uma disposição natural para a simplificação das estruturas linguísticas por parte dos falantes. Veja-se os seguintes exemplos:
(i) «Gostava (de) que me fizesse um favor.»
(ii) «Gostava (de) que me redigisse um texto.»
Ou seja, neste tipo de frases, ambas as formas estão correctas, com ou sem preposição, e a omissão de preposição neste tipo de construções não é entendida como agramatical.
No que diz respeito ao uso do condicional ou do pretérito imperfeito, também ambos estão certos. O pretérito imperfeito pode ser considerado mais informal, e o condicional, mais formal, erudito. O mesmo acontece quando se utiliza o verbo gostar para exprimir um desejo, ou um plano. As duas formas são aceites:
(i) «Gostava de ir as Himalais.»/«Gostaria de ir aos Himalias.»
No entanto, neste tipo de construções, a preposição é obrigatória.
Sempre ao seu dispor.