Ana Rita B. Guilherme - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Ana Rita B. Guilherme
Ana Rita B. Guilherme
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Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas-Estudos Portugueses e Ingleses pela Faculdade de Letras de Lisboa; mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; investigadora do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de uma ajuda em uma questão. Na frase «Joguei no bicho», qual seria a classificação sintática de «no bicho»?

Obrigada!

Resposta:

O verbo jogar é um verbo transitivo, ou seja, selecciona um complemento, e que, neste caso («no bicho»), é um complemento oblíquo. Isto é, trata-se de um complemento normalmente desempenhado por um grupo nominal ou sintagma nominal («o bicho»), que se liga ao verbo por meio de uma preposição (em).

O complemento oblíquo distingue-se do complemento indirecto — que também se associa ao verbo por meio de uma preposição — porque não pode ser substituído pelo pronome dativo lhe, veja-se:

(i) «Dei um livro ao João [complemento indirec}to].»
(ii) «Dei-lhe [complemento indirecto] um livro.»
(iii) «Joguei [no bicho].»
(iv) *«Joguei-[lhe].»

Sempre ao seu dispor.

Bibliografia consultada

Martins, Raquel Delgado (direcção de) (1996), Introdução à Linguística Geral e Portuguesa, Caminho, Lisboa.

Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora.

Pergunta:

«Não demonstrava cansaço, não ofegava. Nem fazia idéia de quantas armas estariam apontadas para ela naquele instante.»

Na frase acima, está correto o futuro do pretérito («estariam»), ou deveria lá estar o imperfeito do indicativo («estavam»)?

Obrigado.

Resposta:

Em síntese, o pretérito imperfeito do indicativo é usado para:

(i) Designar um acontecimento passado mas não acabado, ou seja, imperfeito;

(ii) Designar uma acção passada habitual;

(iii) Descrever ou narrar, devido ao seu carácter reiterativo;

(iv) Fazer pedidos, como forma de cortesia;

(v) Substituir «pelo futuro do pretérito para denotar um facto que seria consequência certa e imediata de outro, que não ocorreu, ou não poderia ocorrer» (Cunha, 1991).

E o futuro do pretérito ou condicional utiliza-se para:

(i) Indicar acontecimentos posteriores à época de que se fala;

(ii) Exprimir incerteza, dúvida, probabilidade;

(iii) Exprimir surpresa ou indignação em frases interrogativas ou exclamativas;

(iv) «(…) afirmações condicionadas que designam factos que não se realizaram e que provavelmente não se realizarão» (Cunha, 1991)

Ora, na frase em questão, estamos perante uma situação em que o futuro do pretérito («estariam») poderia ter sido substituído pelo pretérito imperfeito («estavam»), e, portanto, a utilização quer de um tempo verbal quer de outro está correcta.

Sempre ao seu dispor.

Bibliografia consultada:

Cunha, Celso e Cintra, Lindley (1991), Nova Gramática do Português Contemporâneo, págs. 450-453 e 461/462.