Ana Rita B. Guilherme - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Ana Rita B. Guilherme
Ana Rita B. Guilherme
7K

Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas-Estudos Portugueses e Ingleses pela Faculdade de Letras de Lisboa; mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; investigadora do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber se podemos empregar o termo "sinonimamente", no sentido de «sinónimo». Por exemplo, dizer que «a Escola de Palo Alto (colégio invisível) é apelidada "sinonimamente" de Nova Comunicação».

Obrigado pela vossa resposta.

Resposta:

O termo sinonimamente não se encontra atestado nos dicionários de língua portuguesa, ou seja, não é um termo do léxico português. No entanto, e embora não se encontre atestada, a palavra é possível em português, pois segue as regras de formação de palavras, neste caso, segue as regras de formação de advérbios: a palavra é composta pelo adjectivo sinónima, ao qual se juntou -mente, um dos sufixos utilizados para a criação de advérbios. 

As palavras que derivam do nome e adjectivo sinónimo são: sinonímia, sinonimista, sinonimizar, sinonimizado.

Sempre ao seu dispor,

Pergunta:

Não consigo entender qual o valor ou a função de que, quando inicia uma oração, seguido de um verbo no presente do conjuntivo, como acontece nas seguintes expressões/frases:

«Que venha o diabo e escolha!»

«Que me caia o tecto em cima se não é verdade.»

Poderiam elucidar-me?

Muito obrigado pela atenção.

Resposta:

As frases em causa são frases imperativas indirectas. As frases imperativas podem ser de dois tipos: directas e indirectas. As directas são frases independentes e utiliza-se o modo imperativo; as indirectas são frases que ocorrem em contextos de subordinação e utiliza-se ou o conjuntivo ou o infinitivo. Ambos os tipos de frases exprimem uma ordem, um desejo ou um pedido.

Veja-se um exemplo de cada uma respectivamente:

(i) «Come a sopa!»
(ii) «Diz-lhe que coma a sopa!»

No entanto, as frases imperativas indirectas admitem a omissão da frase principal ou subordinante:

(iii) «Que coma a sopa!»

Ora, nas expressões em causa, a frase principal também está elidida, e, se inserirmos a frase subordinante, o seu conteúdo não se altera:

(iv) «(Desejo) que venha o diabo e escolha!»
(v) «(Desejo) que me caia o tecto em cima se não é verdade!»

Sucede que estas frases são expressões idiomáticas da língua e, como tal, são inalteráveis, e nunca surgem com a oração principal.

Sempre ao seu dispor.

Pergunta:

Gostaria de saber como devo encarar a terminação dos verbos quando estes são "reflexados". Qual das duas opções está correcta e existe uma regra?

«Porquê estudá-las se já são conhecidas?»

ou

«Porquê estuda-las se já são conhecidas?»

Obrigado.

Resposta:

Na frase em questão não estamos perante um verbo reflexo, mas sim perante um pronome átono (-las) que está a substituir um complemento directo. Sucede que entre «estudá-las» e «estuda-las» existe uma alternância vocálica para marcar a diferença entre o presente do modo indicativo (estuda) e a forma infinitiva do verbo (estudar), à semelhança do que acontece com outros verbos que apresentam alternâncias vocálicas para marcar a diferença entre o presente do indicativo e o pretérito perfeito do indicativo. A alternância vocálica é marcada graficamente com o acento. Veja-se os seguintes exemplos:

(i) gostamos/gostámos
(ii) estudamos/estudámos

Além disso, para além da diferença na vogal entre as duas formas do verbo, existe também uma diferença de acento: «estudá(-las)» é uma palavra aguda (oxítona), ao passo que «estuda(-las)» é uma palavra grave (paroxítona).

Ora, nas frases em causa é necessário marcar a diferença vocálica e acentual porque o complemento directo está pronominalizado e, como tal, ao fazer-se a contracção do verbo com o pronome, apaga-se a marca de infinitivo e de indicativo. Se o complemento directo não for pronominalizado, não é necessário marcar esta diferença, pois a terminação do verbo indica-a.

Posto isto, a forma correcta da frase neste contexto é: «Porquê estudá-las se já são conhecidas?» O advérbio «porquê» parece não aceitar formas finitas dos verbos, mas apenas grupos nominais ou o infinitivo, que é uma forma nominal do verbo. Tome-se os seguintes exemplos:

(i) *«Porquê estuda-las se já são conhecidas?»

(ii) *«Porquê falas sobre isso?»

Pergunta:

Frase: «Para Laban cada princípio tem uma anotação correspondente. O resultado é um sistema parecido com o da notação musical...»

Pergunta: notação e anotação são sinónimos? Se não, quando se deve empregar um ou outro?

Resposta:

Anotar e notar são sinónimos no sentido em que ambos significam tomar notas, fazer apontamentos. No entanto, no âmbito da música, da matemática ou da química, por exemplo, notação significa um «sistema de representação gráfica de elementos de determinado campo científico». Isto é, em determinados campos científicos, «fazer notação» significa «anotar com recurso a símbolos específicos».

Bibliografia:

Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa

Pergunta:

Gostaria de saber a diferença entre resumo e reconto ao nível do produto final. Obedecem a técnicas diferentes?

Resposta:

Resumir significa contar de novo o que se ouviu ou leu mas de um modo breve, sucinto, focando apenas os pontos essenciais da narração a resumir. Recontar é contar de novo, mas não implica fazê-lo de um modo sucinto, no fundo, é repetir a narração que se ouviu ou leu.

Sempre ao seu dispor.