Ana Rita B. Guilherme - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Ana Rita B. Guilherme
Ana Rita B. Guilherme
6K

Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas-Estudos Portugueses e Ingleses pela Faculdade de Letras de Lisboa; mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; investigadora do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Posso utilzar o pretérito imperfeito do conjuntivo a seguir à interjeição oxalá, ou tem de ser forçosamente o presente do conjuntivo?

«Oxalá ele faça...», ou «Oxalá ele fizesse...»?

Estão as duas formas correctas?

Resposta:

Sim, as duas frases estão corretas. A interjeição oxalá pode ser também utilizada com o pretérito imperfeito do conjuntivo. A escolha de um ou outro tempo está relacionada com o valor que se pretende veicular: o uso do presente exprime um desejo presente; a utilização do pretérito imperfeito introduz um valor de maior incerteza quanto à concretização do estado de coisas desejado.

Sempre ao seu dispor.

Pergunta:

Qual a origem e o significado da palavra almoçageme?

Obrigado.

Resposta:

Segundo José Pedro Machado, no Dicionário Onomástico e Etimológico da Língua Portuguesa (1981), existem duas possibilidades para a origem do nome Almoçageme: uma avançada por Joaquim da Silveira, que indica ter origem em al-mostagem — «os árabes estrangeirados, ou seja, aportuguesados»; outra hipótese é a de derivar de al-munsagem, i. e., «água que corre». Parecendo mais inclinado para esta segunda hipótese, pois Almoçageme, um lugar perto de Sintra, é bastante inclinado, José Pedro Machado avança com a seguinte questão: «existiam apenas mouros-aportuguesados em Almoçageme? Claro que não.»

Sempre ao seu dispor.

Pergunta:

Gostaria de saber a origem do meu apelido Ventura.

Obrigado.

Resposta:

Segundo José Pedro Machado no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, e seguindo nisto José Leite de Vasconcelos na Antroponímia Portuguesa, o apelido Ventura é uma abreviatura de Boaventura. Este último remete para o Santo Boaventura da Toscana.

Sempre ao seu dispor.

Pergunta:

Sejam bem regressados!

Julgo que deva escrever-se «Da Vinci», «Van Gogh» ou «Da Silva», por exemplo (embora, naturalmente, «Leonardo da Vinci», «Vincent van Gogh» e «Agostinho da Silva»). Podem confirmar, por favor?

Obrigado.

Resposta:

Com nomes portugueses não existe a tradição de colocar a preposição, pelo que se exclui a possibilidade de maiúscula inicial. Assim sendo, será «Agostinho da Silva» e, em referências bibliográficas, «Silva», e não *«Da Silva»; «José Maria de Eça de Queirós» e «Eça de Queirós», «Eça» ou «Queirós», e não *«De Eça de Queirós», *«De Eça», nem *«De Queirós».

Todavia, em relação a nomes estrangeiros costuma aceitar-se a colocação da preposição como o consulente refere.

Sempre ao seu dispor.

Pergunta:

De acordo com o novo acordo ortográfico, o verbo (intenção de ir) deixa de estar ligado por um hífen à palavra de. Duas (três) questões:

— Que fazia o hífen quando se ligavam as duas palavras pelo hífen? O hífen não liga as duas palavras porque se escrevem sempre as duas juntas?

— Como se vai distinguir a «intenção de ir» do de haver, «ter»?

Obrigada.

Resposta:

Antes da reforma ortográfica de 1990, o hífen colocava-se apenas nas formas monossilábicas do presente do indicativo do verbo haver empregado como auxiliar da conjugação perifrástica: hei-de vs. havemos de + infinitivo. Segundo Rebelo Gonçalves (1947: 238/239), no Tratado da Ortografia Portuguesa, a colocação do hífen deve-se a diferentes motivos, dos quais se salientam três: a preposição de não tem acento tónico, ou seja, é átona e, por esta razão, subordina-se à palavra antecedente; «os agregados obtidos com a preposição de e as formas verbais referidas constituem união vocabular [...] estreita», sendo disto prova as formas populares "hades" e "hadem"; as formas hei-de e hás-de podem ocorrer com o infinitivo subentendido — «Deixe-me; hei-de dizer-lhas, hei-de» (Garrett, A Sobrinha do Marquês, acto II, c. XIV).

Com o Acordo Ortográfico de 1990, e conforme a  sua Base XVII, o hífen desaparece nas formas monossilábicas de haver auxiliar: hei de, hás de, há de, hão de. De acordo com a Nota Explicativa do Acordo Ortográfico de 1990, a eli...