Ana Rita B. Guilherme - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Ana Rita B. Guilherme
Ana Rita B. Guilherme
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Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas-Estudos Portugueses e Ingleses pela Faculdade de Letras de Lisboa; mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; investigadora do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Está bem difícil diferenciar os artigos indefinidos um e uma dos pronomes indefinidos um e uma.

Como ter a certeza de que é artigo indefinido, sem a dúvida de que é pronome indefinido?

Li algumas respostas, mas ainda fiquei confuso.

Há uma sutileza entre uma coisa e outra, não?

Resposta:

Um artigo é uma palavra que antecede um nome. Os artigos podem ser definidos (o, os, a, as) ou indefinidos (um, uns, uma, umas). Estes colocam-se antes de um substantivo não determinado, ou que não foi referido antes:

(i) «Comprei um casaco amarelo.»

Sucede que, quando um artigo indefinido ocorre isoladamente, ou seja, em que o nome foi elidido, este pode ser entendido como um pronome indefinido. Veja-se o seguinte exemplo:

(i) «Convidei várias crianças para a festa. Umas apareceram, outras não.»

Em que quer umas quer outras substitui o nome crianças.

Sempre ao seu dispor.

Pergunta:

Pretendo ao longo do meu texto referir-me a poemas que não têm um título expresso. Como devo fazer-lhes referência? Transcrevo o primeiro verso entre aspas somente? Faço-o entre aspas e em itálico, ou simplesmente em itálico?

Muito obrigada!

Resposta:

Para fazer a referência de um poema sem título, basta transcrever o primeiro verso e colocá-lo entre aspas ou em itálico, conforme o tratamento gráfico que, no seu texto, decidiu atribuir aos títulos.

Sempre ao seu dispor.

Pergunta:

Qual o significado da palavra tifoniano? Tentei, já, vários dicionários on-line, tanto o da Priberam como o da Porto Editora, no entanto, em nenhum deles se encontra essa palavra.

Obrigado.

Nota: Encontrei a palavra no livro História das Mitologias, 1.º volume, Edições 70, na pág. 55.

Resposta:

No âmbito da mitologia, nomeadamente na mitologia grega, Tífon era um monstro, filho de Hera, que tinha um aspecto horrível e muito assustador, e era detentor de uma força descomunal. Está associado às tempestades naturais, e era temido pelos próprios deuses do Olimpo. Este monstro também se encontra na mitologia egípcia, com o mesmo nome ou com o nome de Set.

Assim sendo, e embora também não tivesse encontrado em nenhum dicionário da língua portuguesa a palavra tifoniano, deduzo que tifoniano significa algo ou alguma coisa que tenha características de Tífon.

Bibliografia:
Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira da Cultura;
New Larousse Encyclopedia of Mythology.
 
Sempre ao seu dispor,

Pergunta:

Em português do Brasil, arco-íris e "arco(-)botante" são pronunciadas com /-o-/, ou com /-u-/?

Resposta:

A pergunta em causa seria respondida com maior rigor por um falante nativo de português brasileiro, no entanto, pelo que consegui averiguar, a palavra arco-íris é mais vulgarmente pronunciada com [u] uma vez que a seguir surge a vogal tónica [i] proporcionando a semivocalização da vogal anterior. Quanto à palavra arcobotante, é pronunciada com [o] porque tem uma consoante a seguir, não podendo a vogal anterior semivocalizar.

Sempre ao seu dispor,

Pergunta:

Gostaria de saber se o certo a se escrever é:

«Fica designada audiência de conciliação» ou
«Fica designado audiência de conciliação».

Sei que, em alguns adjetivos como proibido, necessário, bom etc., o gênero depende da existência do artigo ou de um determinante, ex. «Pimenta é bom»/«A pimenta é boa»; portanto, gostaria de saber se a palavra designado se comporta da mesma maneira que esses adjetivos, especialmente nessa frase da audiência, já que me deparo com a mesma em vários processos, e ora está de um jeito e ora de outro.

Obrigado.

Resposta:

Para esta questão não importa tanto a ausência ou a presença de um determinante mas sim se a oração se encontra na voz activa ou na voz passiva. Assim sendo, a forma correcta de escrever a frase é:

«Fica designada a audiência de conciliação.»

Com efeito, a frase está na passiva. As frases passivas são construídas com um verbo auxiliar e com o particípio passado do verbo principal, que neste caso é designar/designada. Os particípios passados são formas nominais dos verbos e como tal apresentam características de adjectivos, ou seja, têm de declinar em género e número para concordarem com o sujeito. Os verbos auxiliares que participam nas frases passivas são, principalmente, o verbo ser e o verbo estar. O verbo ser utiliza-se para criar passivas de acção, e o verbo estar, para criar passivas de estado. Mais, o complemento directo da frase na voz activa passa para sujeito na passiva.

Assim sendo, a frase em causa é uma passiva de estado. Embora estas passivas sejam normalmente construídas com o verbo estar, também o podem ser com outros verbos, como é o caso do verbo ficar. Ao substituirmos o verbo ficar pelo verbo estar, obtemos o mesmo significado:

«Está designada a audiência de conciliação.»

E como é uma frase passiva, o particípio passado terá de concordar em género e número com o sujeito, que neste caso é «a audiência de conciliação». O que acontece é que o sujeito não está na sua posição habitual, mas, se invertermos os...