A. Tavares Louro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
A. Tavares Louro
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Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas — Estudos Portugueses e Franceses pela Faculdade de Letras de Lisboa. Professor de Português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Como devo escrever «professor auxiliar», «professor associado», «professor catedrático»? Em separado? Com hífen? Com hífen e as duas palavras com inicial maiúscula? Com hífen e as duas palavras com inicial minúscula? Com hífen e só a primeira palavra com inicial maiúscula? Como? "Professor-Associado", "Professor-associado", "professor associado", "Professor Associado"...? Muito obrigado.

Resposta:

O hífen é usado principalmente para facilitar a leitura, como nas palavras pré-história, sota-piloto, etc. Também é importante que as palavras unidas por hífen constituam novos conceitos como: pé-de-galinha, pé-de-cabra, etc.

No caso vertente, não se verifica qualquer vantagem na justaposição das citadas palavras, pois não criaria nenhum novo conceito. Os dicionários da língua portuguesa não registam nenhum caso de justaposição com estas palavras.

Em relação às iniciais maiúsculas, não há preceitos explícitos para as categorias profissionais do Ensino Superior. Aparentemente, deveriam escrever-se em minúsculas como acontece com os nomes de cargos, postos e dignidades hierárquicas, conforme a Base XLVII da Norma de 1945 (o Acordo Ortográfico de 1990 é omisso a respeito deste caso):

«Os nomes de cargos, postos ou dignidades hierárquicas, sejam quais forem os respectivos graus, assim como os vocábulos que designam títulos, qualquer que seja a importância destes, escrevem-se, em regra, com minúscula inicial, ressalvada, claro está, a possibilidade de emprego da maiúscula em complementos que os especifiquem: o arcebispo de Braga, o conselheiro F., o duque de Caxias, o imperador, o marquês de Pombal, o patriarca das Índias, o presidente da República, o rei de Inglaterra, o reitor da Universidade

Mas há frequentes excepções:

«[...] usa-se a maiúscula em quaisquer vocábulos deste género, se assim o exigem práticas oficiais ...

Pergunta:

Confrontado recentemente com a lista de nomes próprios admissíveis para o registo civil de recém-nascidos, fui informado de que o nome Dinis poderia ser usado, mas o nome "Diniz" não, por alegadamente corresponder a uma forma arcaica de grafia do nome. Perante as minhas dúvidas, os funcionários do registo civil explicaram que a lista de nomes admissíveis era estabelecida a partir da consulta de especialistas em onomástica, que assim se tinham pronunciado neste caso.

Por outro lado, numa das vossas respostas anteriores (Moniz e Diniz) afirmam que Dinis se escreve com s porque provém do francês Denis. Nesse caso qual é então a origem do nome Diniz? É correto que não possa ser usado como nome próprio?

Muito obrigado pelos esclarecimentos.

 

Resposta:

D. Afonso III foi conde de Bolonha, em França, antes de ser rei de Portugal. O nome de seu filho D. Dinis é a adaptação do francês Denis e surgiu por influência de S. Dinis, primeiro bispo de Paris.

Durante muitos séculos, não houve ortografia oficial. Os secretários e os copistas escreviam conforme era usual nas chancelarias onde trabalhavam. Esta liberdade deu lugar a que surgissem as grafias "Denis", "Dinis"  e "Diniz". As consoantes finais s e z eram facultativas.

Nos nossos dias, em Portugal, existem relações oficiais dos nomes das crianças que podem ser registadas como filhos dos cidadãos nacionais. Nelas se poderá verificar que é Dinis a forma correta, quer à luz do Acordo Ortográfico de 1945, até aqui em vigor em Portugal, quer de harmonia com o novo Acordo Ortográfico.

Pergunta:

Gostaria de saber o significado deste provérbio:

«Quem vai à guerra dá e leva.»

E será que me podiam indicar um provérbio semelhante?

Agradeço a vossa resposta logo que seja possível.

Resposta:

«Quem vai à guerra dá e leva» é uma expressão muito frequente entre os rapazolas que gostam de brigar. Assim, quando vão à luta, já sabem que podem magoar-se. Como esta expressão contém uma certa dose de imprevidência, poderá ser substituída, nalguns contextos, por: «Quem anda à chuva molha-se.»    

 

Pergunta:

Gostaria que me esclarecessem sobre a diferença entre animização/animismo (significam o mesmo?) e personificação, visto que há uma certa confusão na nomeação destas figuras de estilo.

 

Resposta:

O animismo é um vocábulo ligado à psicologia, à filosofia, à antropologia e à pedagogia. A "animização" é um vocábulo que não está registado nos dicionários mais actuais e mais completos da língua portuguesa. Poderemos, no entanto, relacionar esta palavra com o verbo animizar, que significa «dar alma» e «dar ânimo».

Personificação tem vários significados e, entre eles, o seguinte: «atribuição de características humanas a outros seres animados ou inanimados.»

No domínio das figuras de pensamento, devemos ter em consideração a prosopopeia, figura pela qual se introduzem, no discurso, pessoas, divindades, animais ou seres inanimados. Toma o nome de:

a) dialogismo — se as pessoas falam consigo ou umas com outras;

b) idolopeia — se aparecem a falar divindades;

c) prosopopeia propriamente dita, quando se põem a falar animais ou seres inanimados, ou se lhes atribui qualquer manifestação da vida humana.

Exemplo: «Por quem sempre o Tejo chora» (Os Lusíadas, I, 14).

De observar que, como sinónimo de personificação e prosopopeia, o termo animismo foi também usado durante algum tempo no contexto escolar (cf. J. M. Nunes de Figueiredo e A. Gomes Ferreira, Compêndio de Gramática Portuguesa, Porto Editora, 1976, pág. 110), mas actualmente em Portugal tende-se a evitá-lo.

Pergunta:

Agradecia que me explicasse o sentido da expressão «jogo de anca», que vi utilizada num artigo de jornal.

Grato pela atenção.

Resposta:

O «jogo de anca» ou «jogo de cintura» é uma expressão relacionada com o pugilismo. Corresponde à facilidade de movimento da parte inferior do corpo. Em sentido figurado, significa que um determinado indivíduo possui capacidade para ultrapassar uma dificuldade ou vencer mesmo numa situação difícil.

Em relação ao futebol, o «jogo de anca» facilita as fintas aos adversários. Partindo desta imagem, esta expressão significa habilidade e facilidade de movimentos.