A. Tavares Louro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
A. Tavares Louro
A. Tavares Louro
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Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas — Estudos Portugueses e Franceses pela Faculdade de Letras de Lisboa. Professor de Português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Afinal porque dizemos «caiu no meio do chão»? Porquê «meio»? 0u «foi para o olho da rua»? Porquê «olho»?

 

Resposta:

A linguagem emocional é, frequentemente, exagerada.

A nossa vista tem tendência para convergir para o centro. Por isso, «o meio do chão» é uma frase hiperbólica dado que exagera o valor dos acontecimentos.

A expressão «olho da rua» é uma metonímia porque substitui uma ideia por outra com a qual está relacionada. Na rua, sabemos que há muitos olhos que observam o que se passa. Por isso, aquele que é enviado para a rua fica como centro das atenções e das críticas.

Pergunta:

Qual o significado do apelido Nobre?

Resposta:

Nobre significa «aquele que pertence à nobreza». Também significa «aquele que se comporta como é obrigatório para um nobre; aquele que é distinto como um nobre». O apelido/sobrenome tem, portanto, origem no adjectivo usado como substantivo (cf. José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa).

Note-se que a expressão francesa «noblesse oblige» quer dizer «aquele que é nobre tem obrigações próprias da sua condição».

Pergunta:

Como se escreve: «Câmara Municipal de Chamusca», ou «Câmara Municipal da Chamusca»? E porquê?

Resposta:

Geralmente, os nomes das povoações relacionadas com substantivos comuns são antecedidas por artigo definido, como: «o Porto», «a Guarda», etc.

Dado que chamusca é um substantivo comum relacionado com o verbo chamuscar, supõe-se que o substantivo próprio daí derive, pelo que deveremos escrever «Câmara Municipal da Chamusca».

Pergunta:

Gostaria de saber o aumentativo e diminutivo de lugar, arma, sabonete e festa.

Resposta:

Os substantivos lugar, arma e sabonete não são usados no grau aumentativo sintético. Em teoria, poderíamos considerar formas "lugarzão", "armona"/"armão"/"armazona"/"armazão", "sabonetão"/"sabonetezão", mas, na verdade, são usadas apenas as formas analíticas adequadas a situações particulares. Exemplos: «um lugar muito frequentado», «um lugar bem remunerado», «uma arma muito perfeita», «um sabonete muito agradável». Já com festa, a situação é um tanto diferente, porque em português europeu é possível empregar festão e dizer «fazer um festão»; ainda assim, formas analíticas são preferidas, nas quais se intensifica o adjetivo que qualifica o substantivo em questão: «uma festa muito alegre».

Como diminutivos, poderemos registar lugarzinho, lugarzito; armazinha, armazita; sabonetinho, sabonetito, sabonetezinho, sabonetezito; festinha, festita, festazinha, festinha. Como depreciativos, poderemos encontrar lugarzeco, armazeca, sabonetezeco e festazeca.

Pergunta:

Como devo escrever «professor auxiliar», «professor associado», «professor catedrático»? Em separado? Com hífen? Com hífen e as duas palavras com inicial maiúscula? Com hífen e as duas palavras com inicial minúscula? Com hífen e só a primeira palavra com inicial maiúscula? Como? "Professor-Associado", "Professor-associado", "professor associado", "Professor Associado"...? Muito obrigado.

Resposta:

O hífen é usado principalmente para facilitar a leitura, como nas palavras pré-história, sota-piloto, etc. Também é importante que as palavras unidas por hífen constituam novos conceitos como: pé-de-galinha, pé-de-cabra, etc.

No caso vertente, não se verifica qualquer vantagem na justaposição das citadas palavras, pois não criaria nenhum novo conceito. Os dicionários da língua portuguesa não registam nenhum caso de justaposição com estas palavras.

Em relação às iniciais maiúsculas, não há preceitos explícitos para as categorias profissionais do Ensino Superior. Aparentemente, deveriam escrever-se em minúsculas como acontece com os nomes de cargos, postos e dignidades hierárquicas, conforme a Base XLVII da Norma de 1945 (o Acordo Ortográfico de 1990 é omisso a respeito deste caso):

«Os nomes de cargos, postos ou dignidades hierárquicas, sejam quais forem os respectivos graus, assim como os vocábulos que designam títulos, qualquer que seja a importância destes, escrevem-se, em regra, com minúscula inicial, ressalvada, claro está, a possibilidade de emprego da maiúscula em complementos que os especifiquem: o arcebispo de Braga, o conselheiro F., o duque de Caxias, o imperador, o marquês de Pombal, o patriarca das Índias, o presidente da República, o rei de Inglaterra, o reitor da Universidade

Mas há frequentes excepções:

«[...] usa-se a maiúscula em quaisquer vocábulos deste género, se assim o exigem práticas oficiais ...