A. Tavares Louro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
A. Tavares Louro
A. Tavares Louro
69K

Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas — Estudos Portugueses e Franceses pela Faculdade de Letras de Lisboa. Professor de Português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Um dia desses, eu estava assistindo a um filme e ouvi a palavra "esquila" para se referir ao feminino de esquilo, mas eu acredito que este não seja o feminino de esquilo, recorri ao dicionário, mas não encontrei. Eu acho que é um substantivo epiceno. Por favor, responda-me, qual é o feminino de esquilo?

Desde já agradeço...

Resposta:

De facto, a palavra esquilo é um substantivo epiceno. Por esse motivo, a diferença deve ser feita usando: esquilo-macho e esquilo-fêmea.

Outro exemplo: «Eles têm três esquilos: um macho e duas fêmeas.»

Pergunta:

Escreve-se «Manual sobre corrupção, criminalidade organizada e económico-financeira» ou «Manual de corrupção, criminalidade organizada e económico-financeira», sendo certo que o dito manual não trata de ensinar a corromper, a cometer crimes, etc.?

Resposta:

A palavra manual é usada normalmente para pequenos livros que contêm instruções mecânicas ou técnicas. O termo sugere, portanto, o ensino e a aprendizagem de um procedimento, uma técnica ou certa capacidade (por exemplo, uma língua: «um manual de inglês»), encarados positivamente e fazendo parte das rotinas sociais. Mas as expressões muito curtas como «manual de corrupção» ou «manual sobre corrupção» são realmente ambíguas, porque associar manual à corrupção e à criminalidade organizada e económico-financeira, que constituem práticas e comportamentos criminosos, não sendo impossível, pode dar azo a leituras irónicas ou maliciosas. Assim, em relação aos livros de direito, deveremos usar outros termos que serão mais apropriados, como, por exemplo: «compilação ou colectânea de estudos jurídicos e legislação sobre corrupção, criminalidade organizada e económico-financeira».

Pergunta:

Qual é a diferença entre cumulação e amálgama? Que exemplos podem ilustrar tal diferença?

Resposta:

A palavra cumulação, variante de acumulação, que é a forma mais corrente, e amálgama convergem no mesmo campo semântico relativo à noção de adicionamento. Acumulação refere-se principalmente à ideia de adicionar elementos semelhantes, e amálgama refere-se à ideia de adicionar elementos diferentes. Assim, acumulação significa «amontoamento, aglomeração, montão, reunião e cúmulo»; amálgama significa «mistura de coisas diversas» e «confusão de elementos».

Acumulação (ou cumulação) tem ainda um domínio próprio quando se refere ao exercício de diversos cargos ou funções pela mesma pessoa. Amálgama é um palavra usada no domínio da química quando é a designação genérica das ligas que contêm mercúrio.

No domínio da linguística, amálgama é usada com o significado de fusão de dois ou mais morfemas num só, como é o caso da palavra à, que resulta da contracção da preposição a com o artigo a (ver Dicionário Houaiss, s. v. amálgama).

Pergunta:

Gostaria de saber qual a origem do nome Ferreiro, pois esse é o meu último nome.

É um nome invulgar, visto que é mais vulgar ser Ferreira.

Obrigada desde já pela ajuda.

Resposta:

O apelido/sobrenome Ferreiro está registado em Portugal desde o século XIII tal como o apelido/sobrenome Ferreira. Também existe Ferreiró. Todos servem ainda como nomes de localidades.

No seu caso pessoal, poderá iniciar uma investigação, partindo dos familiares mais próximos para os mais antigos. Talvez o seu pai se lembre do seu bisavô paterno. Depois poderá continuar as investigações nas respectivas Conservatórias do Registo Civil.

Pergunta:

Gostaria de saber se há alguma relação da palavra de origem grega oxítona com o nome da região, Occitânia, e a língua, Occitan, do sul da França e partes da Itália e Espanha.

Resposta:

A palavra Occitânia provém do vocábulo latino medieval Occitania, que contém o elemento oc-, que é simultaneamente a partícula afirmativa — oc, «sim» —do occitânico, língua d'oc ou provençal (Sul da França). O termo oxítono tem origem diferente: é um empréstimo do grego oksútonos, os, on, «de som agudo; agudo; gritante, estridente» (Dicionário Houaiss). As palavras oxítona, paroxítona e proparoxitona correspondem à classificação das palavras de acordo com a posição dos acentos tónicos (palavras agudas, graves e esdrúxulas).

Como vemos, existe uma convergência fonética occi- e oxi-, mas de origens diversas.