Da autoria de Maria Elena Ortiz Assumpção e Maria Otília Bocchini, Para Escrever bem é uma valiosa ferramenta de trabalho para jornalistas, redactores e para todos os que pretendam escrever com clareza, simplicidade, rigor e correcção.
Trata-se de um livro que fornece recomendações indispensáveis, ou mesmo autênticos pressupostos para escrever bons textos informativos.
O primeiro pressuposto diz respeito à escolha das palavras, que, segundo as autoras, não devem ser difíceis e pouco conhecidas, uma vez que travam o fluir da leitura e atrasam a compreensão. Devem, sim, ser simples, comuns e reconhecidas instantaneamente pelo leitor, tornando a leitura mais fácil, logo, um prazer.
Relacionada com esta primeira directriz está a arte de fazer um bom título. Um bom título de texto informativo diz rapidamente ao leitor qual é o conteúdo do texto; por outras palavras, economiza o tempo do leitor.
O segundo pressuposto tem que ver com a estrutura da frase. Frases curtas são – lembram as autoras – a chave para a leitura rápida. Frases com cerca de 20 palavras são as recomendadas, listando de seguida alguns aspectos a evitar no processo de redacção, tendo em conta os obstáculos no caminho do leitor comum: períodos demasiado longos, demasiadas intercalações, ordem não directa da frase. E afirmam que qualquer um destes aspectos pode levar o leitor a abandonar o texto.
Uma vez que se trata de textos informativos, as recomendações são quase óbvias: frases curtas, muitos verbos e pontos finais, palavras comuns e ordem directa.
A propósito deste último aspecto – ordem directa da frase –, o livro oferece um sugestivo exemplo. A primeira frase do Hino Nacional Brasileiro é Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heróico o brado retumbante. «Como letra de hino, que seja conservada como está: mas se fosse uma frase informativa, o melhor seria colocá-la em ordem directa, isto é, antes o sujeito e depois o verbo e o objecto directo (complementos).» Teríamos assim: «As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico.»
Registam-se ainda algumas recomendações a nível estilístico. Por exemplo, sobre o excesso de estrangeirismos e de redundâncias. "Elo de ligação", "há anos atrás", "encarar de frente" são alguns exemplos de ideias repetidas que não trazem nada de novo ao texto.
Ou, ainda, a razão da preferência, sempre, pelo vocabulário menos rebuscado: «Palavras comuns são reconhecidas instantaneamente pelo leitor. O que é conhecido torna a leitura mais rápida. Por isso, a familiaridade é um dos segredos do texto acessível.»
Aqui reside, de resto, o pressuposto-base desta obra: quem escreve tem de colocar o interesse do leitor acima de tudo. Do mesmo modo que um pintor não pinta para si próprio, quem escreve também não deve escrever pensando em si, mas tão-só em quem o lê.
Em suma: trata-se de um valioso contributo para o jornalismo profissional (não é por acaso a recomendação do Curso Abril de Jornalismo), uma verdadeira obra de referência num panorama em que escrever bem é uma missão quase impossível.
Ler também: O que é escrever bem? + Escrever à mão, porque não?
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