Estudar o desenvolvimento histórico de uma língua é um exercício exigente e que assenta também no estabelecimento de diálogos com outras áreas do saber que vão desde a semiótica até à história de arte, passando pela literatura. Pegar num texto antigo como as cantigas medievais e entendê-lo como material linguístico que nos pode mostrar como os falantes de uma determinada época usavam a língua foi sempre a génese da investigação feita pela destacada linguista Teresa Brocardo. Falecida em 2023, a professora universitária Teresa Brocardo dedicou parte do seu trabalho académico ao estudo diacrónico dos verbos em português, nomeadamente os verbos ser e estar, e à edição de importantes textos medievais, acompanhados pelo respetivo estudo linguístico. Neste sentido, em jeito de homenagem ao seu legado, em junho de 2024, foi lançada a obra ...Sedia la fremosa..., organizada por Antónia Coutinho, Clara Nunes Correia e Maria do Céu Cetano, e que reúne os trabalhos mais proeminentes desta destacada académica.
O título da obra remete, por um lado, para o verso da cantiga de amigo, da autoria de Estevão Coelho, que foi usada por Teresa Brocardo como objeto para o estudo diacrónico dos verbos ser e estar e cujo artigo constitui um dos capítulos. Por outro lado, ...Sedia la fremosa... demonstra também o diálogo possível entre o texto literário e os estudos linguísticos, atitude frequentemente encontrada na investigação desenvolvida por Teresa Brocardo. Essa abordagem quase única de estudar a língua foi o que, segundo Sandra Figueiredo Costa, Brocardo procurava transmitir aos seus discípulos, incutindo-lhes «a noção de que um texto será esse material linguístico, com todas as reservas que impõe relativamente à possibilidade de ser um eco mais ou menos distorcido do modo como os falantes da época praticavam a sua fala, mas é sempre mais uma infinidade de coisas» (página 18).
Este volume é, portanto, para além de uma compilação de trabalhos de investigação, um testemunho importante sobre uma outra forma de pensar a língua e a sua história, demonstrando que é sempre possível estabelecer pontos de contactos com outras disciplinas, já que dificilmente uma área de estudo sobrevive a dialogar apenas consigo própria. Por conseguinte, esta forma de ser e estar na diacronia é um legado importante e que vale a pena continuar a transmitir e a descobrir.
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