A nova marca "Allgarve", apresentada pelo ministro Manuel Pinho, no passado dia 16, é uma ofensa aos algarvios, a todos os portugueses, a todos os que falam português e a todo o ser vivo pensante.
Ensina-se nas nossas escolas que os árabes entraram na Península Ibérica em 711 e aqui permaneceram cerca de cinco séculos, ocupando a faixa centro-sul. Por isso é que a presença de palavras de origem árabe é extremamente marcante no português actual.
A maneira mais fácil de exemplificar isso mesmo é olhar para a sílaba inicial al- presente em tantos nomes comuns e topónimos (nomes de lugares) do português. É que al- é, em árabe, artigo definido prefixado (ligado à palavra). Só alguns exemplos: alcaide, de al-qaid, com o significado de «o guia»; alqueire, de al-kayl, «a medida de trigo»; algema, de al-jamah, «a pulseira»; álgebra, de al-jabrah, «a redução».
Isto mostra também como os árabes, em muitas áreas, impuseram uma cultura superior à ibérica — sobretudo no que toca à agricultura, à arquitectura, à ciência e à administração.
Alcântara, de al-qantarah, «a ponte de madeira»; Alcácer, de al-qaçr, «o castelo»; Almada, de al-ma'adanâ, «a mina»; Albufeira, de al-buhairâ, «a lagoa que nasce no mar»; Algarve, de al-gharb, «o oeste»…
Então, que tipo de disparate temos em "Allgarve"?
Não é um erro involuntário, semelhante a "Oporto"; não é a triste ideia de traduzir um topónimo português (do género, Castelo Branco — "White Castle"); não é sequer a parolice de traduzir uma parte do topónimo (com seria, Ribatejo — "UpTejo").
É que é mesmo um disparate inclassificável: é a associação arbitrária de tudo a coisa nenhuma.
Mas não é um disparate inconsequente e muito menos gratuito. Trata-se da criação emblemática de uma empresa que anuncia valorizar turisticamente o Algarve e que gastará uma fatia dos 9 milhões de euros do erário público disponibilizados para o efeito.
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*artigo publicado no Semanário "Sol", de 24-03-2007