É comum o recurso a expressões idiomáticas na comunicação social, inclusivamente nos títulos. «Sonae.com admite "voltar à carga" daqui a um ano» (Agência Financeira, 2/3/07), «IPPAR aponta o dedo à autarquia» (Rádio Renascença, 5/3/07), «Bush põe América Latina a ferro e fogo» (Portugal Diário, 10/3/07).
Há razões para isso. A expressão idiomática cria vínculos com o leitor ou ouvinte, pois corresponde a uma rotina de língua fixada na memória colectiva. Paralelamente, há a aproximação ao registo popular, que relaxa no momento da recepção da informação.
Mas é preciso ver também que as expressões idiomáticas integram o grupo dos estereótipos e dos clichés. Elas sedimentam-se através da repetição, transportam uma representação "congelada" do mundo (no francês, expressions figées), acarretam uma avaliação consensual e, como tal, tornam-se fiadoras de uma perspectiva em jogo no discurso.
Acontece também que os media nos servem expressões idiomáticas em abundância simplesmente porque transmitem declarações.
O ministro António Costa, na semana passada, não se poupou. Sobre o relatório dos EUA relativo ao sistema prisional português, afirmou: «Não vejo quais sejam os pergaminhos que lhes permite [aos EUA] teorizar» (TSF, 7/3/07); à pergunta do Expresso sobre a unificação de comando PSP-GNR em missões no estrangeiro, respondeu: «Por alma de quê?» (Expresso, 10/3/07); sobre o processo de transferência de competências para a administração local, assegurou à Lusa: «não vai haver finca-pé.» (Lusa, 9/3/07). À Antena 1 reconheceu que é natural que as autarquias estejam a «esticar a corda» (9/3/07).
Percebe-se isso muito bem: ninguém quer que lhe roam a corda, sobretudo quando se está na corda bamba ou com a corda ao pescoço. Esgotada a hipótese de mexer os cordelinhos, claro está.
in semanário Sol, de 17-03-2007