O leitor Rui Henriques fez-nos chegar uma observação justa relativamente ao uso da expressão "à séria", em vez de a sério, e deu um exemplo: «os alunos prepararam-se à séria para o evento» (Sol, 2-6-07).
Quando falamos (ou escrevemos), fazemos escolhas — de palavras, de expressões, de combinatórias de grupo de palavras, etc. Essas escolhas fazem-se, em grande medida, em função dos contextos. Em registo familiar, podemos ouvir dizer que alguém ou alguma coisa «trabalha à séria», «funciona à séria» — com o sentido de «sem facilitar»; «com profissionalismo e eficácia». Algum dia havia de aparecer uma expressão que permitisse o contrapeso das coisas feitas à balda, à toa, à maluca ou à bruta.
Portanto, se admitirmos a integração de "à séria" na língua, é imperioso atender às restrições fortes de registo ou nível de língua.
Ora, acontece que "à séria" circula à vontade no discurso dos media:
«Arraiais à séria só em Alfama» (Diário de Notícias, 10-6-06);
«Emissão da TV Net arrancou ontem "à séria"» (Jornal de Notícias, 12-12-06);
«Uma semana para cinéfilos à séria» (Sol, 8-2-07).
Mais do que classificar "à séria" como erro absoluto, é de condenar a sua presença nos jornais — que estão obrigados à activação do registo corrente — e, sobretudo, assinalar que muitos falantes do português (nos dois pólos da chamada comunicação de massas) apresentam um défice acentuado no seu arquivo vocabular, que os impede de, em função dos contextos, substituir "à séria" e a sério por expressões alternativas, como com empenho, com determinação; ou aficionado, competente, produtivo, consequente, etc., etc.
Cf. Falamos à séria ou a sério?
Artigo publicado no semanário Sol, de 9 de Junho de 2007.