Poul Rasmussen, actual líder do Partido Socialista Europeu, esteve em Lisboa e falou de um novo modelo laboral denominado flexissegurança — ou flexigurança ("flexisegurança" é erro ortográfico).
Saber qual é a forma apropriada, se flexigurança se flexissegurança, não é fácil. Do ponto de vista linguístico, há argumentos válidos que sustentam quer uma quer outra forma. Flexissegurança preserva a forma integral do segundo elemento da composição, segurança, facilitando a inteligibilidade, além de que é uma forma mais agradável de pronunciar. Mas há quem considere também que flexigurança é uma palavra aceitável, formada a partir de partes de palavras, como acontece em credifone (crédito + telefone) ou você (Vossa Mercê).
Do ponto de vista cognitivo, a adopção da palavra flexigurança/flexissegurança também não é fácil. Normalmente a criação de uma nova palavra numa língua é motivada pelo aparecimento de uma nova realidade (concreta ou abstracta) que é preciso nomear. Acontece que a flexigurança/flexissegurança não existe. Existirá no reino da Dinamarca. Em Portugal é prestidigitação. Convoca o desejo de conciliar a mudança de emprego com o reforço de apoio social ao trabalhador.
Se formos ver o que está escrito em documentos autorizados, também não vamos longe: na tradução para o português do General Report on the Activities of the European Union (2006) faz-se a correspondência: flexicurity — flexissegurança. Mas no Livro Verde sobre as Relações Laborais, do Ministério do Trabalho e da Segurança Social, aparece flexigurança.
À falta de uma autoridade normativa para a língua portuguesa, resta-me deixar o meu parecer: a forma flexissegurança é a preferível, porque se enquadra num processo de formação mais comum na língua portuguesa.
*Artigo publicado no semanário Sol de 16 de Junho de 2007