Se temos na língua portuguesa a palavra patrocínio, para quê o naming e o branding? «O que será que eles têm contra a língua portuguesa?» Um texto a propósito de as Lojas do Cidadão, em Portugal, passarem a ter um nome comercial.
O que será que eles têm contra a língua portuguesa? Dir-se-ia que lhes fez algum mal. Há meses, a estação do metropolitano da Baixa-Chiado [em Lisboa] foi rebaptizada com o nome de Baixa-Chiado PT Blue Station, naquilo que foi descrito e aplaudido por alguns como uma operação de naming.
Agora surge o secretário de Estado adjunto do ministro adjunto a defender o branding das Lojas do Cidadão. Estas somariam às suas designações o nome de uma marca comercial que as quisesse adoptar (estou mesmo a ver: Loja do Cidadão Restauradores – Soutiens Triunfo ou Loja do Cidadão Laranjeiras – Frutol de Laranja).
Embora a adjuntíssima figura governativa dona da ideia ainda não tenha dado pormenores da operação, naming e branding parecem ser uma única e mesma coisa. E volta-se à pergunta inicial: o que será que eles têm contra a língua portuguesa? Ela possui o substantivo patrocínio, de entendimento generalizado, para designar o acto ou o efeito de patrocinar, auxiliar ou proteger. Ou será que o branding do adjunto é diferente do naming da PT/Metropolitano e as duas coisas nada tenham a ver com o “patrocínio” dos dicionários?
N. E. (8/11/2016) – O anglicismo (product) naming aplica-se frequentemente em português e noutras línguas próximas à técnica de criação de nomes de marcas, produtos, serviços, empresas e marcas brancas (cf. artigo da Wikipédia em francês). Também se emprega em referência à prática de uma espécie de patrocínio que consiste em atribuir a um lugar, geralmente um recinto desportivo (um estádio de futebol, por exemplo), o nome de uma marca comercial ou de uma empresa (cf. Wikcionnaire). No entanto, em línguas com parentesco próximo com o português, como o francês ou o espanhol, encontram-se soluções em alternativa à palavra inglesa. Assim, em francês, recomenda-se nommage, dénomination, création de nom de marque e création de nom (cf. idem, ibidem) ; para o espanhol, a Fundación para el Español Urgente (Fundéu BBVA) considera preferível o uso de creación de nombres. Seguindo estes exemplos, parece de propor a formação de um termo português equivalente e, portanto, sugere-se denominação (de produto), que se inspira numa das soluções francesas, ou «criação de nomes», decalcando o caso espanhol (e o francês também).