Dracma “ele”, escrevem uns jornais, dracma “ela”, escrevem outros, a propósito de a Grécia sair ou não do euro. Texto publicado no jornal i de 25/05/2012.
A Grécia sai do euro ou não sai? O euro e a Europa sobrevivem? Em meio a ciclópicas indefinições e labirintos de incertezas, saber se “dracma” é “ele” ou “ela” não parece importante. Mas convinha que os jornalistas estivessem de acordo. É uma questão de fé.
Frases recolhidas nos meios de comunicação [portugueses]: «A Grécia somou à crise económica uma crise política (…), augurando um dramático regresso à dracma» (“Público, dia 15); «os gregos continuam a dizer que não gostariam de voltar a ter o dracma como divisa» (“Público, dia 18); «o regresso ao dracma parece inevitável» (RDP, dia 17).
Nos dicionários, dracma é feminino. É assim que aparece no Novo Testamento. S. Lucas deixou-nos (como se sabe, em grego) a seguinte parábola de Jesus: «Qual é a mulher que, tendo dez dracmas e perdendo uma, não acende a candeia, não varre a casa e não a procura diligentemente até achá-la? Quando a tiver achado, reúne as suas amigas e vizinhas, dizendo: Regozijai-vos comigo, porque achei a dracma que eu tinha perdido.»
Encontrar ou não a dracma perdida, eis o drama da Grécia e da Europa. Vem na Bíblia. Será que a sra. Merkel já não lê o livro que certamente marcou a sua juventude de filha de pastor protestante?
In jornal i, de 25 de maio, na coluna semanal do autor, Ponto no i, sob o título original Ele ou ela?. Manteve-se a grafia original da norma de 1945.