Os tempos de covid-19 tornaram o verbo despedir quase tão ameaçador quando o vírus, senão mais, nalgumas situações. Só assim se compreende a opção de certos trabalhadores com sintomas de infeção, cujo receio de despedimento parece bem mais forte do que o medo da doença, os que os impele a continuar a trabalhar, escondendo uma possível doença.

O temor associado ao verbo despedir tem razão de ser já desde a sua origem. Despedir vem do verbo latino expetere, que significa “empurrar”, “mover-se com impulso”, “lançar com força para fora”, sentidos que são associados ao movimento físico, à força, ao ímpeto.

Embora as sonoridades atuais aproximem despedir do verbo pedir, os seus sentidos etimológicos não se tocam, pois pedir expressava o ato de “tentar conseguir algo” ou de se “dirigir a alguém”. Despedir nada tem da força de vontade ou da conquista de pedir. Despedir é perda e acontece quando alguém dispensa os serviços da pessoa que contratou. A força física e o empurrar para fora, que estavam na sua origem, continuam lá. Acresce a prepotência que a ação pode implicar.

Despedir soube bem mascar estes sentidos mais duros associando-se ao pronome -se. Quando o verbo se converte em pronominal, o poder da decisão transfere-se para o trabalhador, que passa a poder afirmar «Obviamente, demito-me!» ou, então, expressa a singeleza do gesto cortês de dizer adeus, quando chega o momento da separação: «Vá, agora, despeçam-se!»

O verbo despedir opera num leque de sentidos vai da rudeza da demissão à doçura da saudação, albergando significações tão distintas que, quando se converte em nome, sente necessidade de procurar duas formas que expressem realidades específicas: despedimento e despedida. Despedimento designa sobretudo a extinção do vínculo laboral, enquanto despedida se guarda para a referência ao ato de cumprimentar no momento da partida.

E desta forma se incompatibiliza uma despedida afetuosa com um despedimento compulsivo, embora as palavras venham do mesmo berço…

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